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New York Times

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Guerra arrisca patrimônio sírio

Por C. J. CHIVERS

TELL MARDIKH, Síria - Ali Shibleh rastejou por um túnel com pouco mais de meio metro de altura até alcançar um espaço subterrâneo ligeiramente maior. Ele varreu a escuridão com o facho de sua lanterna.

Um combatente adversário do ditador Bashar Assad, Shibleh estava vagando abaixo de Ebla, uma antiga ruína que durante várias décadas foi um dos sítios arqueológicos mais cuidadosamente estudados e publicamente celebrados da Síria.

Ele tinha acabado de fazer mais uma de suas muitas descobertas: levantou algo parecido com um bastão seco, então o espremeu entre seus dedos. Ele quebrou com um ruído seco, soltando poeira. "É um osso humano", disse.

Em grande parte da Síria, o patrimônio nacional está em perigo por causa da guerra, enfrentando ameaças que vão da simples destruição pelas bombas e balas a escavações oportunistas de caçadores de tesouros que se aproveitam do vazio de poder. A luta assolou o entorno das ruínas romanas de Palmira, antiga cidade no centro da Síria antes conhecida como a Noiva do Deserto.

Ebla fica em um monte que se ergue acima da planície de Idlib. Ela foi habitada pela primeira vez há mais de 5.000 anos. Mais tarde, se tornou uma cidade fortificada, cujos moradores comercializavam azeite e cerveja em toda a Mesopotâmia. A cidade foi destruída por volta de 2200 a.C., floresceu novamente vários séculos depois e foi novamente destruída.

A última comoção ocorreu depois do início da guerra, em 2011. Quando os rebeldes empurraram o Exército de volta para guarnições próximas, a saliência em que Ebla repousa apresentou uma utilidade marcial moderna: era ideal para avistar aviões do governo.

Assim, Shibleh e vários outros combatentes foram colocados com rádios no monte para relatar a aproximação de jatos de ataque MIG e Sukhoi, que repetidamente despejam bombas em cidades que saíram do controle de Assad.

Ele e outros membros de seu grupo combatente dizem que também tentam proteger Ebla do saque de ladrões que buscam artefatos para vender no mercado negro.

Mas o próprio Shibleh já escavou o antigo morro e explorou suas passagens subterrâneas. Ele mostrou para a reportagem o caminho para uma série de antigas criptas. Em um trecho, Shibleh encontrou um grande pedaço de osso em forma de colher, que parecia ser leve como um biscoito. Era parte de uma cabeça humana. "Havia muitos crânios aqui", disse. "A caverna estava cheia deles."

Esses crânios desapareceram quando foram removidos por caçadores de artefatos e depois jogados fora, segundo ele. Os sítios e túmulos são locais com potencial para encontrar joias, pois alguns cadáveres eram enterrados com oferendas e posses materiais.

As criptas de Ebla não foram a fonte de sua fama. Nos anos 1960 e 1970, a importância da cidade foi restabelecida e seu nome ficou conhecido entre arqueólogos quando uma missão arqueológica liderada pelo italiano Paolo Matthiae descobriu enterrado o antigo arquivo da cidade-Estado, que tinha mais de 16 mil lousas de pedra.

"Ebla foi o mais importante e proeminente reino na era de 3000 a.C.", disse Cheikhmous Ali, arqueólogo sírio e organizador da associação Proteja a Arqueologia Síria, que vem documentando os danos e roubos de antiguidades do país.

Depois de ver fotografias das escavações e intrusões nas criptas em Ebla, Ali ficou desanimado. "Uma civilização que pertence a toda a humanidade está sendo destruída", disse.


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