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New York Times

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De Bangladesh para o trânsito de NY

Por JOSEPH GOLDSTEIN

Showkat Khan usava um amplificador para transmitir sua entusiástica mensagem a uma sala ocupada principalmente por homens de Bangladesh, que o ouviam falar em bengalês com algumas frases misturadas em inglês. A certa altura, ele ergueu um exemplar do "The Chief", jornal do Serviço Público da Prefeitura de Nova York.

"Vocês estão aqui para ganhar dinheiro neste país e para ter uma vida melhor", disse Khan. Mais de um caminho leva ao sonho americano, admitiu ele, apontando algumas opções. Mas um deles parece se destacar acima dos demais, no mínimo pelo fato de o próprio Khan já tê-lo desbravado: ele é um agente de trânsito.

Khan é parte de um contingente de imigrantes bengaleses que ganha a vida lavrando multas por estacionamento proibido para a prefeitura, uma presença curiosa e crescente no controle do tráfego asfixiante e do mar de carros estacionados pela cidade.

Os imigrantes de Bangladesh, que correspondem a menos de 1% da população da cidade, agora somam entre 10% a 15% dos 3.000 agentes de trânsito de NY, disse Robert Cassar, presidente do sindicato que representa os agentes.

Na última década, segundo dirigentes sindicais, pelo menos 400 imigrantes bengaleses se tornaram agentes de trânsito em NY, dando início a uma nova carreira no país para um grupo que tradicionalmente encontrava lugar como motorista de táxi.

Os registros municipais indicam que eles são menos de 200, mas autoridades do Departamento de Polícia disseram suspeitar que o número seja maior, porque muitos funcionários não citam seu local de nascimento. O salário inicial é de US$ 29 mil por ano, mas os benefícios e o sistema previdenciário são generosos.

Antes de se tornar agente, Sheikh Zaman trabalhava como segurança num aeroporto de Nova York, um emprego que não tinha a mesma estatura do cargo que ele ocupava na polícia nacional de Bangladesh, sua terra natal, onde supervisionava investigações de assassinato, estupro e roubo. Ele concluiu que suas chances de conseguir um emprego no Departamento de Polícia de Nova York eram mínimas, mas não pôde deixar de se perguntar por que via tantos compatriotas usando uniformes policiais e redigindo autos de infração.

"Eu via uma porção de bengaleses andando pela cidade, aplicando multas", recordou recentemente. Perguntou-lhes então como haviam sido contratados. "Fiquei surpreso", disse. "Eles me falaram que esse era um emprego muito fácil de conseguir."

Zaman fez um exame para o serviço público em 2008 e começou sua nova carreira no ano seguinte. "Eu adoro meu emprego", disse Zaman, 40. "Ninguém gosta de levar multas, mas eu gosto do trabalho. Ele me dá segurança. Estou feliz."

A proliferação de agentes de trânsito bengaleses tem muito a ver com a divulgação boca a boca, em grande parte, de Khan, agente e líder sindical de 53 anos, cujas sessões de orientação informal aos imigrantes de Bangladesh se transformaram em seminários nos quais ele ajuda os interessados a se prepararem para o exame de ingresso no serviço público.

"Eu pensava que usar um uniforme significava que você havia nascido na América. Era um mal-entendido", relembra Khan, que em Bangladesh ganhava a vida como mágico itinerante. "Quando eu entrei, abri as portas."

Num seminário recente, Mohamed Shamim al Mamun, 33, disse que estava em Nova York havia apenas 16 dias. Ao responder sobre o que pretendia fazer, Mamun disse: "Estou interessado em ser agente de trânsito".

O trabalho que ele quer pode se tornar um desafio. Os agentes suam no verão, tiritam no inverno e se irritam no ano todo com os insultos gritados quando colocam os autos de infração sob o limpador de para-brisas dos carros.

As ofensas podem ser especialmente desestabilizadoras para imigrantes recentes.

"Um monte de gente diz: 'Volte para o seu país'", contou Jamil Sarwar, que há vários anos fiscaliza vagas de estacionamento. "Mas eu os ignorava, porque sei que não estou fazendo nada de errado. Eu trabalho para a cidade."

Das centenas de imigrantes bengaleses que se tornaram agentes de trânsito ao longo dos anos, cerca de cem, incluindo Sarwar, passaram depois a trabalhar como policiais, segundo Khan.

Há mais de 74 mil imigrantes bengaleses na cidade de Nova York, de acordo com dados do Censo. A certa altura, imigrantes de Bangladesh recebiam mais licenças para trabalhar como taxistas do que qualquer outro grupo -uma afinidade estranha, já que muitos nunca tinham dirigido em seu país natal.

Os empregos de fiscal de estacionamento, disse Shah Nawaz, corretor de seguros que se especializou em apólices de acidentes para condutores de táxi, tornaram-se "fonte de orgulho para uma nova geração de bengaleses".

Ele aponta para uma fotografia emoldurada de seu filho de 14 anos, Sadman, e acrescenta: "Ele diz: 'Eu vou ser policial'. Eu digo: 'Trabalhar para o Departamento de Polícia de Nova York é um serviço honroso, por que não?'".


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