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New York Times

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Refugiados dizem ter sido enganados pelo FBI

Por FRANCIS ROBLES

Cinco homens do Sri Lanka deixaram suas cidades natais, devastadas pelas consequências de uma impiedosa guerra civil, e embarcaram em uma jornada de tráfico humano que percorreu diversos países e durou meses.

Cada um deles pagou US$ 55 mil por uma nova oportunidade nos EUA. Os homens foram capturados poucas horas depois de chegarem ao sul da Flórida e serviram como testemunhas do Serviço Federal de Investigações (FBI) norte-americano na investigação sobre as pessoas que os contrabandearam, uma cooperação que, foram levados a acreditar, os beneficiaria em seus processos nos tribunais de imigração.

Passados três anos, eles ainda estão na prisão, esperando uma decisão judicial. Estudos demonstram que a detenção média nos casos norte-americanos de imigração é de um mês. Os cinco solicitantes de asilo, apesar de não terem fichas criminais, estão na cadeia desde o final de 2010.

Especialistas dizem que os casos mostram a natureza subjetiva da aplicação das leis de imigração, afirmando que a chance de liberdade de um refugiado pode depender em larga medida das mãos a que sua pasta for encaminhada, fenômeno conhecido como "roleta dos refugiados". Além disso, há questões mais graves, sobre a maneira pela qual o governo trata imigrantes desprovidos de documentos que colaboram com investigações sobre tráfico humano.

Um advogado que representa os homens, de origem tâmil, disse que suas deportações eram iminentes. "A vida na prisão é horrível", disse um dos homens, um pescador de 35 anos que, como os demais prisioneiros entrevistados para o artigo, falou sob a condição de anonimato, devido ao histórico de detenção e tortura de deportados de origem tâmil em seu país. "Se eu ficar mais tempo aqui, enlouquecerei."

Os homens se conheceram no Sri Lanka em 2010, um ano depois que o governo derrotou uma insurgência de separatistas tâmeis. O cerco de três anos de duração custou cerca de 40 mil vidas.

O pescador disse que estava sendo extorquido no Sri Lanka, recebia ameaças de morte por telefone e foi forçado a deixar seu emprego em um partido de oposição. Depois de contatar um contrabandista chamado Mohan, ele deixou a mulher e um filho pequeno e fugiu em um voo de cinco escalas: Sri Lanka a Dubai, Moscou, Cuba, Haiti e Estados Unidos.

No Haiti, ele se encontrou com Mohan e com quatro outros imigrantes tâmeis. Eles chegaram à Flórida em dezembro de 2010. Lá foram levados a uma casa que servia como esconderijo, mas poucas horas mais tarde o FBI os acordou. Um membro da Força-Tarefa Unificada de Combate ao Terrorismo do sul da Flórida, que acredita que Mohan seja responsável por contrabandear cerca de 1.700 pessoas, tinha uma escuta no telefone de Mohan, de acordo com um queixa apresentada por Anthony Montgomery, agente especial do FBI.

Montgomery precisava de testemunhas. "Ele vinha à prisão todos os dias. Todos nós respondíamos: 'Não, não, não'", disse o pescador, em uma cadeia no norte da Flórida. "Então ele prometeu que nos tiraria da prisão e traria minha família para cá". Quatro dos homens concordaram em identificar o contrabandista, com base em fotos, e o pescador prestou depoimento. Eles foram conduzidos ao tribunal e ficaram detidos na mesma cela que o homem que haviam acabado de denunciar.

Mohan, cujo nome real é Sri Kajamukam Chelliah, residente do Canadá, admitiu-se culpado por deliberadamente encorajar e induzir imigrantes a ingressar ilegalmente nos EUA e foi sentenciado a cinco anos de prisão.

O FBI nunca mais contatou os imigrantes.

Michael Leverock, porta-voz do FBI em Miami, disse que quatro dos cinco homens depuseram voluntariamente e admitiram cumplicidade por ingressar ilegalmente nos EUA. "Eles nunca receberam promessas de que o FBI os beneficiaria na imigração."

Os homens solicitaram asilo nos Estados Unidos, cada um deles relatando um histórico de perseguições. O juiz Rex Ford decidiu que suas histórias não eram críveis e ordenou a deportação dos cinco. O juiz se recusou a comentar.

Um tribunal de recursos devolveu os casos ao juiz Ford, que negou asilo em um dos casos e encerrou os outros quatro porque os homens, já exasperados, escreveram cartas a ele implorando para voltar para casa. "Quando saí de casa, tinha um problema", disse o pescador. "Agora estou sendo deportado e levando dois ou três problemas de volta comigo."


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