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New York Times

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Festival debate apoio de filarmônica ao nazismo

Por JAMES R. OESTREICH

O recém-iniciado festival Viena: Cidade dos Sonhos, que acontece em Nova York, promete ser um dos mais grandiosos na rica história do Carnegie Hall: uma celebração de três semanas com mais de 50 eventos ancorados em cinco programas da Filarmônica de Viena e duas óperas da companhia-mãe da orquestra, a Ópera Estatal de Viena.

Trata-se de uma grande representação da música vienense dos séculos 18 ao 21, desde as valsas da família Strauss até duas óperas catárticas -"Salomé", de Richard Strauss, e "Wozzeck", de Alban Berg.

Mas nem tudo será comemoração e festa. Viena também foi, afinal, uma cidade de pesadelos em algumas ocasiões, e os aspectos sombrios de sua história serão examinados em detalhes durante o festival em Nova York.

Antes mesmo do primeiro concerto, com Franz Welser-Möst regendo a Filarmônica de Viena em um programa com a Nona Sinfonia de Beethoven e "Friede auf Erden" [paz na Terra], de Schoenberg, haverá um simpósio sobre a história de Viena que incluirá tópicos como "as raízes do colapso da sociedade".

Outro painel, intitulado "Como a Sociedade Criativa e Culta de Viena Perdeu sua Bússola Moral?", apresentará a Filarmônica de Viena como exemplo de primeira ordem. Tendo entre os palestrantes Clemens Hellsberg, violinista e presidente da orquestra, que é administrada por um sistema de autogestão, o debate inevitavelmente chegará a um tema mais profundo: a responsabilidade moral de artistas e instituições artísticas.

O comportamento da Filarmônica e de membros da orquestra durante a era nazista foi, sob qualquer ponto de vista, horrível.

Mas a orquestra deu passos significativos nos últimos 25 anos para reconhecer os erros do passado, admitir sua cumplicidade com os nazistas, homenagear os feridos e mortos por causa da ação ou inação de uma geração anterior de instrumentistas e se dedicar à causa da paz internacional.

Não é suficiente, dizem alguns, liderados pelos Verdes, partido austríaco da esquerda liberal, que mantém um olhar cético sobre as atitudes tomadas pela Filarmônica para escapar da sombra de seu passado. Para alguns -como, talvez, parentes de pessoas envolvidas na expulsão de judeus da orquestra em 1938- talvez nunca seja.

Outros, como Daniel Barenboim, que regeu os concertos da Filarmônica em dezembro e janeiro, asseguram que a orquestra está no caminho certo. "Admitir responsabilidades sempre é uma coisa boa", disse Barenboim, "e a Filarmônica fez isso".

Joel Bell, o organizador do simpósio no Carnegie, apoia as iniciativas de Hellsberg.

Bell disse que a orquestra apresentou os fatos no seu site -"Um primeiro passo necessário"-, realizou homenagens, incluindo uma apresentação da Nona Sinfonia de Beethoven em um antigo campo de concentração na Áustria, e tem mostrado disposição para participar do diálogo.

Mas também é verdade que a Filarmônica foi, de certa forma, obrigada a apresentar os fatos.

No início do ano passado, um incidente envolvendo Baldur von Schirach tornou-se público.

Schirach -que foi, entre outras coisas, governador de Viena de 1940 a 1945 e parcialmente responsável pela deportação de dezenas de milhares de judeus para campos de extermínio na Polônia- foi um dos muitos (possivelmente incluindo Hitler) a terem recebido anéis ou medalhas de honra da orquestra por ocasião do seu centenário, em 1942.

Em resposta à indignação pública, a orquestra encarregou historiadores de estudarem as suas atividades durante a era nazista. O cerne do relatório dos historiadores consiste nos relatos de Bernadette Mayrhofer sobre o destino de 16 músicos judeus: 13 que foram expulsos da orquestra e 3 que já haviam se aposentado. Nove fugiram para o exílio, cinco foram deportados e mortos em campos de concentração e dois morreram na miséria em Viena.

As recentes revelações, disseram os Verdes, foram tímidas e tardias demais. "Agora eles admitiram mais ou menos o que todo mundo sabia", disse Hannes Metzler, porta-voz do partido.

Hellsberg se mantém firme.

"Nós temos mais obrigações do que simplesmente fazer o trabalho. Nós estamos cientes de que é importante que nossa história completa seja revelada, os altos e baixos, não somente o período nazista."


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