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New York Times

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Crise financeira atinge o futebol

Por SAM BORDEN

SANTANDER, Espanha - Agustín Fernández, que atua na defesa do time de futebol espanhol Racing Santander, ficou quatro meses sem receber seu salário. Quando as férias chegaram e ele não teve dinheiro para comprar a bicicleta que sua filha de três anos queria, o choque foi tão grande que quase o fez chorar. "Fiquei irado de não poder cumprir o que havia prometido a ela", disse Fernández, cujo salário mensal é de cerca de 2.800 euros (cerca de R$ 8.700,00). "Como isso pode acontecer no futebol profissional?"

Fernández, que saiu do Santander em janeiro para jogar em um time menos famoso (com a promessa de ser pago regularmente), não é um caso isolado de frustração. Enquanto a maioria dos torcedores de futebol acompanha o glamour de times milionários como Real Madrid, Chelsea e Paris Saint-Germain, atrasos salariais são uma preocupação crescente entre jogadores profissionais. As razões variam -incluindo executivos corruptos e gastos exagerados em busca de troféus-, mas o problema reflete uma turbulência econômica mais ampla.

As regiões mais afetadas pela crise financeira global são as mais notórias pela falta de pagamento a jogadores. Em um estudo feito em 2011 com cerca de 3.200 jogadores do Leste Europeu, 41,4% reclamaram da falta de pagamento, segundo a FIFPro, organização que representa os jogadores.

A FIFPro descobriu que o índice era ainda mais alto na Grécia (quase 70%) e na Croácia (cerca de 60%). Em Montenegro, 94% dos jogadores afirmaram que atrasos salariais eram rotineiros. Há dois anos, jogadores do Shanghai Shenhua, da China, demonstraram sua revolta com os atrasos salariais indo treinar com roupas comuns e andando pelo campo sob o olhar atônito dos treinadores. Em novembro na Argentina, torcedores do Colón, da primeira divisão, fizeram um motim quando o time se recusou a entrar em campo devido à falta de pagamento há sete meses.

No México, jogadores do Celaya Futbol Club agiram com criatividade em meados de março. Eles colocaram sacos de papel na cabeça durante uma foto oficial antes de um jogo, a fim de protestar pela falta de pagamento há dois meses.

A situação do Racing Santander é uma das mais graves. Fundado em 1913, o clube ficou nas duas divisões de elite da Espanha em 77 das 83 temporadas passadas. Em 2011, o Santander foi comprado pelo magnata indiano Ahsan Ali Syed e nos três anos seguintes caiu da primeira divisão da Espanha, La Liga, para o terceiro nível, a Segunda Divisão B.

O clube tinha grandes dívidas antes de ser comprado por Ali Syed, mas a partir daí as finanças pioraram rapidamente. O colapso foi exacerbado, disseram jogadores, por culpa de Ángel Lavín, que era o presidente do clube. "Na temporada passada havia dívidas, mas no final tudo se resolveu", disse o goleiro Mario Fernández. "Esta temporada começou mal. O salário de julho foi pago em agosto e depois vieram as mentiras do presidente."

Segundo vários jogadores, Lavín constantemente lhes diz que os pagamentos serão feitos "dentro de alguns dias". O atacante Mariano Sanz lembrou que usava seu telefone celular para checar o saldo em queda de sua conta bancária. "Finalmente parei de fazer isso", disse ele.

O time também não recebeu uniformes novos -os jogadores usaram camisas da temporada passada- e o gás no complexo de treinamento do time foi cortado várias vezes, deixando os atletas sem água quente para o banho. Quando o Santander foi a Sevilha para um jogo da Copa do Rei em meados de dezembro, os jogadores viajaram de ônibus -por nove horas- e, ao chegar, viram Lavín já no hotel em que se hospedariam. Ele viajou de avião, disseram eles. Apesar da longa viagem de ônibus, o Santander derrotou o Sevilla e foi para as quartas de final do torneio, um feito memorável para um clube da terceira divisão.

Em 26 de janeiro, o zagueiro Francis Pérez e Fernández tiveram uma reunião com o treinador do time. Os jogadores informaram ao treinador -que também estava com salários atrasados- sobre sua decisão de boicotar um jogo em protesto pela falta de pagamento.

Quatro dias depois, na segunda rodada da quarta de final com o Real Sociedad, transmitida em rede nacional, os jogadores do Santander se juntaram no meio de campo logo após o início da partida. Enquanto o Real Sociedad fazia a bola circular, os jogadores do Santander ficaram imóveis, com os braços entrelaçados. Após cerca de um minuto, o árbitro cancelou o jogo.

Os jogadores do Santander, que foi punido com a exclusão da Copa do Rei na próxima temporada, disseram que sua atitude visava derrubar Lavín do posto de presidente. Ele foi demitido pouco depois, e Juan Antonio Sañudo, ex-jogador do time, tomou posse para negociar com os credores e ajudar o Santander a evitar um colapso total.

Recentemente, os jogadores receberam três meses de salários atrasados. Se o time conseguir uma promoção para a segunda divisão, os rendimentos adicionais provavelmente serão suficientes para mantê-lo em pé.

Colaborou Pere Bosch


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