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New York Times

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Após 1.500 anos, musgo volta a brotar

Por CARL ZIMMER

A ilha Signy, a 600 quilômetros da Antártida, possui um ambiente tão inóspito que não tem uma única árvore. Em vez disso, suas montanhas são forradas por bancos de musgo.

"É como uma grande extensão verde e esponjosa", comentou Peter Convey, ecologista da British Antarctic Survey que trabalha na ilha há 25 anos.

Apenas os dois centímetros superiores dos bancos de musgo estão crescendo. A falta de luz solar deixa o musgo mais velho marrom. Com o tempo, ele fica permanentemente congelado. Mas, quando Conway e seus colegas perfuraram até a camada inferior do aterro de musgo e examinaram as amostras retiradas, viram algo interessante. "Veem-se brotos de musgo em toda a camada inferior", disse o cientista.

O que acontece normalmente é que, quando se convertem em permafrost (o solo permanentemente congelado do Ártico), as plantas se decompõem em matéria orgânica. Mas, quando olharam o musgo antigo da ilha Signy, Conway e seus colegas se perguntaram se ele seria capaz de voltar a crescer, depois de passar séculos na escuridão congelada.

Os cientistas colocaram uma amostra de permafrost de Signy sob uma lâmpada num laboratório no Reino Unido e a nebulizaram com água de tempos em tempos. Após algumas semanas, novos brotos verdes começaram a emergir do musgo.

A camada mais profunda na qual cresceu o musgo ressuscitado ficava a um metro abaixo da superfície. Como os cientistas relataram no periódico "Current Biology", testes de radiocarbono revelaram que o musgo ressuscitado tinha mais de 1.500 anos de idade.

O estudo de Conway faz parte de uma série de experimentos em que cientistas reativaram organismos -vírus, bactérias, plantas, animais- que tinham estado dormentes por centenas, milhares ou até milhões de anos.

À medida que espécies mais antigas são reavivadas, alguns cientistas as estão usando para ter vislumbres do passado e indícios do futuro. Eles batizaram essas pesquisas de "ecologia da ressurreição".

"Quem teria pensado que fosse possível fazer isso?", indagou o biólogo evolutivo Lawrence J. Weider, autor de um manifesto da ecologia da ressurreição publicado no periódico "Trends in Ecology and Evolution". "'Jurassic Park' é uma coisa, mas estamos falando em animais reais, plantas reais, organismos reais que passaram muito, muito tempo em suspensão." "Jurassic Park" foi baseado na noção de que era possível clonar animais extintos, para que voltassem a existir. Alguns cientistas ainda conservam esse sonho. Uma solução potencial seria encontrar uma célula viável numa carcaça bem preservada e convertê-la em um clone.

É muito mais fácil reavivar um organismo se ele não chegou a morrer completamente, para começar. Em 2012, pesquisadores russos anunciaram ter encontrado sementes conservadas em permafrost de 32 mil anos de idade. Conseguiram fazê-las converter-se em flores.

Neste mês, virologistas franceses descobriram no permafrost siberiano de 30 mil anos de idade vírus que ainda podiam infectar amebas.

Em alguns casos, os organismos podem renascer naturalmente, sem a ajuda de cientistas, após milhares de anos. E é possível que exerçam um papel importante em seus ecossistemas.

No final de cada era do gelo, por exemplo, o recuo das geleiras deixa para trás terra nua onde novos ecossistemas se desenvolvem. Convey teoriza que talvez o musgo e outras espécies possam sobreviver sob o gelo por milhares de anos e renascer quando as geleiras derretem.

Clonar mamutes ainda não é possível, mas reavivar organismos dormentes já está saindo do estágio conceitual. A pesquisa pode acabar ajudando espécies ameaçadas de extinção.

"Poderíamos usar o que estivesse armazenado no gelo ou em sedimentos como uma espécie de backup da diversidade", disse Luisa Orsini, da Universidade de Birmingham. Mas alerta: "é preciso tomar muito cuidado ao introduzir algo do passado".


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