Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Estratégia de Obama é tentar desgastar Putin

EUA miram além da Ucrânia para tentar conter Rússia

Por PETER BAKER

WASHINGTON - Enquanto a crise na Ucrânia continua sem uma solução fácil à vista, o presidente Obama e sua equipe de segurança estão mirando além do conflito em curso para elaborar uma nova abordagem de longo prazo para a Rússia, que aplica uma versão atualizada da estratégia de contenção dos soviéticos durante a Guerra Fria.

Da mesma maneira que os Estados Unidos decidiram conter a União Soviética e suas ambições globais logo após a Segunda Guerra Mundial, Obama está focado em isolar a Rússia do presidente Vladimir Putin cortando seus laços econômicos e políticos com o mundo exterior, limitando suas ambições expansionistas no entorno regional e tornando-a um Estado pária.

Obama concluiu que, mesmo que haja uma solução para o impasse atual na Crimeia e no leste da Ucrânia, ele nunca terá um relacionamento construtivo com Putin, segundo assessores.

Em consequência, ele tentará preservar qualquer cooperação que possa ser poupada e, sob outros aspectos, desgastar a reputação de Putin. "É essa a estratégia que deveríamos buscar", disse Ivo H. Daalder, ex-embaixador dos EUA na Otan durante o governo Obama.

"Apenas manter-se impassível, confiante e aumentar gradualmente a pressão sobre a Rússia não resolve o problema com a Crimeia nem provavelmente o problema com o leste da Ucrânia, mas pode resolver o problema com a Rússia."

A manifestação desse raciocínio pode ser vista nome escolhido por Obama para a embaixada dos Estados Unidos em Moscou.

Embora ainda não tenha divulgado oficialmente, a Casa Branca se prepara para nomear John F. Tefft, diplomata de carreira que foi embaixador americano na Ucrânia, na Geórgia e na Lituânia.

Quando a busca começou há alguns meses, funcionários da administração relutaram em enviar Tefft, temendo que sua experiência em ex-repúblicas soviéticas que haviam desprezado a influência de Moscou irritasse a Rússia. Agora, segundo esses funcionários, não há preocupação em ofender o Kremlin.

A prioridade da administração Obama é obter um consenso internacional contra a Rússia, incluindo até a China, que há muito tempo apoia os russos no Conselho de Segurança da ONU.

Porém, enquanto se define a abordagem de longo prazo de Obama, há um debate incômodo nos bastidores sobre até que ponto se deve ir em curto prazo.

Por ora, conselheiros econômicos e assessores da Casa Branca favoráveis a uma abordagem comedida temem ir longe demais à frente dos nervosos europeus e correr o risco de prejudicar as economias ainda frágeis de ambos os lados do oceano Atlântico.

A facção mais belicosa nos departamentos de Estado e de Defesa se sente cada vez mais frustrada e se preocupa privadamente de que Obama tenha passado uma imagem de fraqueza e enviado involuntariamente a mensagem de que abandonou a Crimeia à própria sorte após sua anexação pela Rússia.

A opinião predominante na Ala Oeste, porém, é que Putin descobrirá quanto dano econômico ele mesmo provocou ao seu próprio país.

Assessores de Obama notaram a queda do rublo e do mercado de ações da Rússia, a fuga de capitais do país e a crescente relutância de investidores estrangeiros a expandir seus negócios por lá.

Embora a crise na Ucrânia tome muito tempo na agenda de Obama, não aparenta absorvê-lo. É mais provável ele abordar tópicos como a reforma do sistema de saúde e os republicanos no Congresso do que fazer referência a Putin.

No início de sua gestão, Obama acalentou sonhos de fazer uma nova parceria com a Rússia. Agora, a questão é até que ponto é possível salvar a relação. Tropas e equipamentos americanos ainda se deslocam por território russo, indo e vindo do Afeganistão.

Atualmente, astronautas dos dois países estão em órbita juntos e a Estação Espacial Internacional conta com foguetes russos. Não houve cortes em um programa conjunto para desativar antigos sistemas de armas controlados pelos russos.

As inspeções nucleares continuam em andamento sob o tratado de redução de armas estratégicas "New Start" [Novo Começo] assinado por Obama em sua primeira gestão. E o governo americano ainda está trabalhando com a Rússia para dar fim às armas químicas da Síria e negociando um acordo com o Irã para reduzir seu programa nuclear.

"Não se pode isolar tudo de um agravamento geral das relações e da retórica", comentou Graham Allison, que é diretor do Centro Belfer de Ciência e Relações Internacionais na Universidade de Harvard.

"Mas ainda há negócios de alta prioridade que devemos tentar fazer com a Rússia." Mesmo assim, as relações entre os EUA e a Rússia não voltarão ao normal nem que a situação na Ucrânia seja resolvida logo, disseram especialistas.

"Há realmente uma mudança profunda não só aqui, mas em grande parte da Europa, no que se refere à Rússia", disse Robert Nurick, um especialista em Rússia no Conselho da Otan.

E acrescentou: "Não consigo imaginar este governo gastando muito capital político nessas relações, exceto para administrá-las de forma a não prejudicar demais outras coisas bem mais importantes que a Rússia".


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página