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New York Times

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Ucranianos se refugiam no Ártico

Por ANDREW HIGGINS

BARENTSBURG, Noruega - Enquanto os cientistas monitoram o aquecimento global, aqui no alto do Ártico, estudando a movimentação de ursos polares, geleiras e massas de gelo flutuantes, Nikolai Mikitenko acompanha o ritmo do colapso da Ucrânia, a mais de 3.000 quilômetros de distância, pela migração de mineiros.

Como diretor da Arctic Coal Trust, estatal russa, Mikitenko, que nasceu na Ucrânia, precisa de trabalhadores dispostos a se mudar para uma ilha recoberta de gelo e, por metade do ano, a viver em noite permanente. É um lugar com uma reputação temível.

Um avião russo que transportava mineiros de carvão para trabalhar aqui em Barentsburg colidiu com uma montanha em 1996, matando os 141 passageiros e tripulantes. Um ano depois, mais de 20 mineiros morreram em uma explosão na mina. De lá para cá, pelo menos quatro helicópteros russos caíram.

A ruína econômica e os tumultos políticos na Ucrânia, porém, garantiram que Mikitenko não enfrentará escassez de mão de obra. "Há uma longa fila de pessoas interessadas em trabalhar aqui", disse, acenando com uma lista de novos recrutas da Ucrânia. Dos 400 mineiros, técnicos e funcionários de apoio que agora trabalham para a Arctic Coal Trust na ilha norueguesa de Spitsbergen, mais de 300 vêm da Ucrânia, quase todos de Donetsk e Lugansk, as regiões do leste do país que se viram convulsionadas por violentas perturbações nos últimos meses.

Os salários pagos em rublos russos, que equivalem a US$ 1 mil ao mês -cerca de três vezes o valor médio pago a um mineiro na Ucrânia-, são um dos grandes atrativos. Mas, para os ucranianos de fala russa que lamentam o fim da União Soviética, esse assentamento de mineração também oferece um reconfortante aroma de passado. Lênin preside sobre a cidade de um pedestal, e uma placa de concreto do lado de fora da cantina proclama o propósito original e, de certa forma, ainda intacto da cidade: "Nossa meta é o comunismo".

Mikhail Golovonov, 33, de Lugansk, diz que era jovem demais para lembrar muito sobre a União Soviética, mas que mesmo assim lamenta sua dissolução e o fato de que isso o tenha tornado cidadão da Ucrânia. Golovonov diz que preferiria ser russo. A vida no Ártico, ele diz, "é muito fria e tediosa", mas ainda assim mais confortável e segura do que em Lugansk. Ele vive em uma casa subsidiada pela companhia, com sua mulher e filho pequeno, e economiza quase todo o seu salário.

A única loja é uma mercearia operada pela companhia que vende alimentos enlatados vindos da Rússia. Habitação, energia e outros custos básicos são todos subsidiados por Moscou, que perde dinheiro com a Arctic Coal Trust, mas mantém a empresa à tona porque ela preserva a presença russa em Spitsbergen, a maior ilha de um arquipélago conhecido como Svalbard, cuja localização é estrategicamente importante.

Subsídios russos também pagaram pela construção de um moderno complexo esportivo, pela reforma luxuosa de edifícios da era soviética e pela única fábrica de cerveja localizada no alto Ártico, produtora de uma marca chamada Urso Vermelho.

Cápsula congelada no tempo, a Artic Coal Trust também perpetuou as hierarquias étnicas da era soviética. A maioria dos mineiros são ucranianos, e a maioria dos executivos são russos. Uma escolinha para os filhos dos mineiros segue o currículo russo e ensina aos alunos, quase todos ucranianos, o idioma e a cultura da Rússia, um país que a maioria deles jamais visitou.

Irina Kara, professora dos filhos dos mineiros na escolinha local e natural de Lugansk, diz gostar de seu trabalho e que não se incomoda com a ausência de luz diurna no inverno ou com os verões nublados.

"Este lugar é o fim do mundo", diz. "Mas o salário é bom".


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