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New York Times

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Crescimento industrial incontido preocupa chineses

Estratégia de Pequim desperta temores ambientais

POR KEITH BRADSHER

SHIFANG, China - Meses atrás, líderes locais eram só sorrisos na cerimônia de inaguração das obras de uma grande usina de fundição de cobre em Shifang.

Mas, dias depois, a praça da cidade estava tomada por milhares de jovens protestando contra a poluição a ser causada pela usina de US$ 1,6 bilhão. Após duas noites de batalhas campais, a prefeitura cancelou a obra. "O ambiente é mais importante do que novos investimentos ou empregos", disse uma jovem na praça.

O progresso econômico chinês das últimas três décadas dependeu de uma estratégia de investimentos que previa construções a todo custo, deixando de lado as preocupações com a poluição e a preservação dos bairros.

Mas essa abordagem começa a sair pela culatra, tornando-se um dos maiores desafios para a nova geração de dirigentes chineses.

Novos projetos de investimento costumavam ser vistos como a melhor forma de manter a opinião pública chinesa satisfeita com os empregos e o aumento da renda, garantindo a estabilidade social.

Agora, porém, mais projetos estão atraindo hostilidade. Em muitos casos, eles enfrentam a oposição não só de agricultores que teriam casas e terras confiscadas, mas também da crescente classe média, preocupada com os danos ambientais.

Em resposta, alguns empresários chineses intensificaram seus apelos por mudanças que melhorem a eficiência dos investimentos e simultaneamente levem o país a depender mais do consumo. Mas os líderes do país há anos falam dessa transformação, com poucos resultados.

Ao mesmo tempo, a vasta capacidade ociosa em praticamente todos os setores industriais atrofiou as margens de lucro e deixou as indústrias em dificuldades para pagar seus empréstimos, um problema que foi parcialmente mascarado pelo hábito dos bancos de simplesmente rolarem as dívidas, em vez de reconhecerem os prejuízos. "Todos os setores industriais chineses estão assim. Qual área da indústria chinesa não está com capacidade excessiva?", disse Li Junfeng, diretor da principal agência chinesa de planejamento econômico.

O investimento alcançou, no ano passado, 46% da produção econômica chinesa. Para efeitos de comparação, o auge da taxa de investimentos do Japão foi de 36% no começo da década de 1970. A Coreia do Sul chegou a 39% no final dos anos 1980.

O crescimento do Japão e da Coreia do Sul passou a desacelerar e depois a recuar após esse auge. A grande questão agora é quando a China vai atingir os mesmos limites, segundo Diana Choyleva, economista da Lombard Street Research, em Hong Kong. "O potencial para uma grande crise está sempre por lá", diz ela.

Mas, mesmo dentro da elite chinesa, há um sentimento crescente da necessidade controlar a excessiva dependência em relação aos investimentos empresariais.

Zhu Fushou, executivo-chefe da Dongfeng Motor Corporation, uma das maiores fábricas chinesas de carros e caminhões, surpreendeu a plateia de uma conferência setorial, em setembro, ao dizer que a China pode já ter quase todos os carros de que precisa.

Zhu propôs mais ênfase no livre mercado para determinar ganhadores e perdedores, criticando outros executivos do setor automobilístico que se queixaram da concorrência. "Essa reclamação", disse ele, "não é objetiva -é irracional, incompetente e imatura".

Não está claro se as autoridades em Pequim vão dar ouvidos aos protestos ou se decidirão que não há outra forma de estimular o crescimento econômico a não ser continuar incentivando projetos de indústria pesada.

Em Shifang, não havia nenhum sinal de atividade no local da fundição, mas um soldado vigiava uma pesada barreira de aço. Placas proibiam a entrada. Logo depois da barreira, havia uma dúzia de veículos militares, a garantia de que ninguém entraria.


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