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New York Times

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Cozinheira presidencial inspira filme francês

POR ELAINE SCIOLINO

CHAVAGNAC, França ­- No outono de 1988, uma agricultora local e cozinheira autodidata chamada Danièle Delpeuch foi procurada por funcionários do governo. Eles lhe fizeram uma proposta incomum: mudar-se para Paris imediatamente para tornar-se a chef pessoal do presidente François Mitterrand.

Ela respondeu que suas ovelhas estavam prestes a dar à luz. A resposta de um dos funcionários foi imediata: "Madame, não se recusa um cargo como esse".

Em seu primeiro mandato, Mitterrand foi servido por uma equipe de alta gastronomia composta inteiramente por homens. Reeleito, ele queria a comida simples do campo.

"Quero uma mulher do campo em minha cozinha!", disse o presidente aos seus assessores. Assim, Danièle Delpeuch abandonou seus animais e sua horta no Périgord para viver uma aventura que durou dois anos, preparando refeições fartas para o presidente.

"Se você fizer a comida de minha avó, ficarei satisfeito", disse Mitterrand a Delpeuch. "É uma tarefa difícil, senhor presidente", respondeu ela. "Ninguém se equipara a uma avó, mas vou tentar."

A história da chef e do presidente acaba de chegar às telas num filme lançado em outubro e que contém pitadas de ficção: "Les Saveurs du Palais" (o título pode ser traduzido como "os sabores do palácio" ou "os sabores do paladar").

Delpeuch, 70, está percorrendo a Europa, falando sobre o filme e sua culinária. "As pessoas não sabiam que eu era a cozinheira do presidente, mas agora sabem", disse. "O filme abriu portas para mim."

Na vida real, no entanto, Delpeuch estava longe de ser apenas uma mulher do campo que foi tirada de sua fazenda e levada a Paris.

Nascida em Paris numa família de classe trabalhadora, aos 12 anos de idade, após a morte de seu pai, ela foi com sua mãe para a fazenda de sua avó, onde havia uma casa de pedra de 700 anos.

Nos anos 1970, Delpeuch lançou uma campanha para revigorar o setor moribundo da produção de foie gras. Em 1974, começou a promover fins de semana de foie gras, atraindo gastrônomos para a sua fazenda. Ela vendia sua produção a chefs franceses famosos, como Joel Robuchon.

Alguns anos mais tarde, Delpeuch fundou a primeira escola de culinária da região, convertendo parte de sua casa num pequeno restaurante que empregava produtos locais. Ela deu aulas de culinária nos Estados Unidos, ficou amiga de Julia Child e viveu em Paris por algum tempo. Em 1980, a França lhe deu o título de Chevalier du Mérite Agricole.

Assim, quando o ministro da Cultura, Jack Lang, foi incumbido de encontrar uma chef para Mitterrand, foi Joel Robuchon quem lhe indicou Danièle Delpeuch.

O filme capta o embate entre Hortense Laborie -o nome dado a Delpeuch no filme-, uma chef talentosa que está determinada a impor uma cozinha autêntica na mesa do presidente, e um exército de burocratas e chefs, igualmente determinados a seguir as normas rígidas do Palácio do Eliseu.

Hortense, representada por Catherine Frot, enfrenta o escárnio da equipe inteiramente masculina que encontra na cozinha.

Bernard Vaussion, atual chef do Eliseu, foi o segundo na hierarquia do comando da cozinha do palácio naquela época. "Com certeza, o ambiente era de machismo. Considerava-se que a mulher só devia cozinhar em casa, para a família, e os homens que eram os 'artistas' da cozinha."

Hoje, no Palácio do Eliseu, muitos dos pratos que Delpeuch servia na era de François Mitterrand foram excluídos do cardápio.

No entanto, algumas coisas não mudaram. Apesar de dezenas de estagiárias mulheres terem passado pela cozinha do Palácio do Eliseu nos últimos anos, todos os chefs permanentes de lá ainda são homens.


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