Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Políticos convivem com morte à espreita

Políticos afegãos convivem com a perspectiva da morte

Por AZAM AHMED

CABUL, Afeganistão - As maneiras pelas quais um político afegão pode morrer são muitas: carros-bomba, ataques suicidas, uma saraivada de balas ou, no caso de um assassino ousado, por um revólver escondido no sapato.

No dia 6 de dezembro, um suicida do Taleban com uma bomba escondida na virilha tentou assassinar o novo chefe do serviço de inteligência afegão, conseguindo feri-lo gravemente. Duas semanas antes, insurgentes saudaram dois dos governadores mais novos do país com um ataque armado na província de Helmand e um carro-bomba que arrasou um quarteirão inteiro na província de Wardak. Os governadores sobreviveram, saindo dos incidentes com um atributo essencial para os políticos do país: o sentimento de fatalismo.

"Os atentados fazem parte do trabalho", comentou Abdul Majid Khogyani, o governador de Wardak. "Fazem parte do pacote."

As autoridades do Afeganistão não se preocupam muito com a insatisfação dos eleitores -seu temor mais imediato é serem vítimas de assassinato pelas mãos do Taleban. Empregos no setor público estão entre os mais perigosos do país, já que centenas de funcionários são mortos todos os anos. Quanto mais alto o cargo, maior é o risco. Alguns governadores favorecidos pela sorte e especialmente bem defendidos já sobreviveram a mais de uma dúzia de tentativas de assassinato.

Nos últimos anos, o Taleban vem intensificando sua campanha contra os políticos, mirando contra dezenas de governadores provinciais e distritais, chefes de polícia e até funcionários de escalões mais baixos. No ano passado, 304 funcionários foram assassinados -o número mais alto desde 2001, segundo relatório da ONU.

Se a persistência dos ataques sugere que o alvo é de alta prioridade, então Gulab Mangal, ex-governador da província de Helmand, é um dos maiores alvos do Taleban. Ele se tornou profundamente impopular entre os insurgentes em Helmand devido a seus esforços para erradicar o cultivo da papoula de ópio, um negócio lucrativo que ajuda a financiar o Taleban. Mangal sobreviveu a 17 ataques em seus cinco anos no governo, até ser substituído no cargo neste ano. "Até meus amigos me pediam para deixar o governo", contou. "Mas eu gostava do meu trabalho e, aos poucos, fui perdendo o medo."

No ano passado, um homem-bomba com explosivos no turbante matou o prefeito de Kandahar. Na primavera deste ano, o ex-governador de Uruzgan foi abatido a tiros. Um homem trajando uniforme policial, com um colete cheio de bombas por baixo, matou o general Daoud Daoud, o comandante da polícia responsável pela segurança de nove províncias do norte do país, no ano passado. Em 2010, insurgentes mataram o governador de Kunduz, detonando bombas na mesquita onde ele orava.

Apesar dos riscos, o cargo de governador conserva atrações. Embora o salário seja, em média, de apenas US$ 23 mil por ano, o cargo proporciona grande poder e oportunidades de corrupção.

Depois de três décadas de guerra -contra os soviéticos, entre eles próprios e contra o Taleban-, alguns afegãos dizem que já estão habituados às ameaça de morte.

"A mentalidade que temos aqui é diferente", explicou Farid Mamundzay, vice-ministro do Diretório Independente de Governança Local. "Vemos pessoas morrendo semanalmente, quando não diariamente. Já estamos acostumados."

Mesmo assim, os políticos levam a segurança a sério, em muitos casos assumindo responsabilidade direta por ela.

"Eu tenho que conhecer pessoalmente cada indivíduo que trabalha para mim como guarda", disse Abdul Jabar Taqwa, governador de Cabul, apertando seu punho direito, marcado por cicatrizes brancas deixadas por queimaduras que sofreu num atentado a bomba em 2011.

Na província de Parwan, Abdul Basir Salangi já sobreviveu a três atentados durante seus quatro anos como governador. "Levo isto comigo em todo lugar", contou, mostrando um fuzil de assalto carregado.

"O inimigo sempre nos espreita", explicou. "E vai aproveitar qualquer oportunidade que encontrar."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página