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New York Times

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Sul-africanos morrem por cargos políticos

Batalhas letais em torno de cargos públicos obscuros

Por LYDIA POLGREEN

OSHABENI, África do Sul - Uma reunião foi convocada em setembro para discutir as candidaturas a uma vaga recém-aberta no conselho distrital da pequena cidade -o cargo eleitoral de nível mais baixo existente na África do Sul.

Dumisani Malunga, o presidente local do Conselho Nacional Africano (CNA), era o candidato mais cotado para a posição. Quando ele e outro funcionário do partido estavam voltando para casa de carro, às 21h30, um pistoleiro disparou contra o veículo, matando os dois.

Dezenas de autoridades, incluindo vereadores distritais, líderes partidários e prefeitos, vêm morrendo numa luta frenética e mortal pelo poder e as vantagens decorrentes dele na África do Sul.

Os assassinatos sujam a imagem do chamado "país arco-íris", cuja transição, em grande medida pacífica, do governo de minoria branca para uma democracia não racial o converteu em um exemplo de paz, de tolerância e de perdão.

Aqui na província de Kwa-Zulu Natal, quase 40 políticos já foram mortos desde 2010 em disputas por cargos -mais do que o triplo dos três anos anteriores, segundo números do governo. Dezenas de outros morreram nos últimos anos em províncias como Mpumalanga, Noroeste e Limpopo.

No passado um movimento proibido, hoje o CNA está no poder. O partido vem sendo criticado pela miséria, pela desigualdade profunda e pelo desemprego amplo que afetam o país. O CNA é visto, cada vez mais, como uma instituição que não tem contato com a população e cujos líderes procuram apenas encher os próprios bolsos.

Menos de metade dos jovens adultos sul-africanos tem emprego. Muitos não possuem as qualificações básicas para encontrar algum trabalho. Para esses jovens, a política aparenta ser um caminho para fugir da pobreza.

O cargo de vereador de um distrito rural, numa cidade pequena como Oshabeni, pode não parecer grande coisa para ser disputada. O salário é de cerca de US$ 150 mensais, e seu detentor precisa receber um fluxo constante de queixas de moradores sobre escolas que não ensinam, torneiras sem água e crimes que a polícia não impede. Mas os vereadores distritais também podem influenciar a concessão de contratos governamentais para obras de desenvolvimento em suas regiões. É possível ganhar muito com propinas.

"Em função do alto índice de desemprego, as pessoas procuram qualquer oportunidade para criar uma renda e capitalizar em cima dela", comentou Mzwandile Mkhwanazi, o presidente regional do CNA na área que abrange Oshabeni. "Elas são influenciadas pelos níveis de pobreza, criando maneiras e jeitinhos para conseguir dinheiro."

Quando uma vaga de vereador distrital foi aberta em Oshabeni, muitos ficaram ansiosos para concorrer.

Um deles era um o jovem motorista de táxi Sfiso Khumalo, líder da seção local da Liga Jovem do CNA. Mas, segundo outros membros da Liga Jovem, Khumalo não tinha boa reputação. Era esquentado e tinha passado nove anos na prisão por furto.

Dumisani Malunga, 42, era uma figura local popular e estava em seu caminho. Quando Malunga foi encontrado morto a tiros perto de sua casa, poucos tiveram dúvidas em apontar o suspeito principal.

Dois dias depois, a polícia prendeu Khumalo, que confessou ter conspirado com um empresário local para mandar matar Malunga.

Em 18 de setembro, Khumalo foi sentenciado a 22 anos de prisão.

Em comunicado à imprensa, o líder do CNA em Kwa-Zulu Natal condenou a violência e a cultura que nasce dela.

"O CNA não pode permitir que se desenvolva uma cultura do submundo, a criminalidade e a eliminação violenta de adversários", disse o presidente provincial do partido, Zweli Mkhize. "Não pode permitir que cargos políticos sejam equacionados com autoenriquecimento, sem que a chegada a um cargo público seja ligada à capacidade, à competência e ao serviço dedicado prestado à nossa população."

Membros do partido pagaram pelo enterro de Malunga. O túmulo dele, de tijolos e estuque, parece luxuoso comparado aos montes de terra que cobrem outros túmulos no cemitério familiar.

Malunga vivia com sua mãe, viúva, Sizakele Malunga. "Nada vai trazer meu filho de volta", disse ela.


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