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New York Times

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Dançarinos mesclam o balé clássico e o hip-hop

Como o balé, o "jookin" é dançado na ponta dos pés

Por ALASTAIR MACAULAY

A professora de balé Katie Smythe, de Memphis, estava levando seu melhor aluno, Charles Riley, a uma demonstração, em 2007. Riley, um rapaz especializado na forma local de dança hip-hop conhecida como "jookin", estava tendo aulas de balé para ganhar força e ampliar sua extensão de movimentos.

Smythe pediu a Riley que dançasse ao som da música "Cisne" do "Carnaval dos Animais", de Saint-Saëns. No carro, ela colocou a música para ele ouvir e contou-lhe que Mikhail Fokhine coreografou a dança para a bailarina Anna Pavlova, para que ela fosse dançada nas pontas dos pés.

No "jookin", homens calçando tênis também dançam na ponta dos pés. Eles não usam "collant" e, com esses calçados, não conseguem endireitar os joelhos, mas podem ficar nas pontas dos pés e mexer os braços nos movimentos de corrente e isolamento do hip-hop, que são uma contrapartida moderna às ondulações dos braços de uma bailarina que representa um cisne. Quando Smythe e Riley chegaram a seu destino, ela o apresentou à plateia e colocou a música para tocar. A performance de Riley foi filmada e postada no YouTube.

Em 2010, o vídeo (que não estava mais on-line) foi visto por Heather Watts, antiga bailarina principal do New York City Ballet. Riley, mais conhecido como Lil Buck, tinha mudado para o sul da Califórnia.

Ao assistir ao vídeo, Watts ficou eletrizada pela beleza, pela musicalidade e pela espontaneidade da performance e também por sua inovação estilística. Ela contatou Katie Smythe pelo Facebook. Enquanto isso, mostrou o vídeo a seu marido, Damian Woetzel, ex-dançarino principal do City Ballet, atual membro do Comitê do Presidente para as Artes e Humanidades e diretor artístico do Festival Internacional de Dança de Vail. Como Watts, ele ficou estarrecido.

Em dezembro de 2010, Woetzel viu Lil Buck dançar ao vivo pela primeira vez e, em abril de 2011, ele organizou uma sessão em Los Angeles em que Lil Buck voltou a dançar "Cisne", dessa vez ao som do violoncelo ao vivo de Yo-Yo Ma num evento de promoção da educação artística. A dança foi filmada pelo diretor Spike Jonze com seu iPhone. Jonze postou o clipe on-line, criando uma sensação.

Hoje Lil Buck dança nos shows de Madonna e já protagonizou anúncios da Gap. Em dezembro, ele retornou a Memphis para dançar a parte do Rei Rato em "Nut ReMix", de Katie Smythe -uma versão de "Quebra-Nozes" que usa música hip-hop, além da música de Tchaikovsky.

Em 2006, quando Riley chegou ao estúdio de Smythe, ela não demorou a reconhecê-lo como "o Baryshnikov do 'jookin'". Lil Buck e muitos outros alunos vêm de famílias economicamente carentes. Smythe conseguiu patrociná-los com a ajuda da Nike, do Arts Memphis, do Arts Outreach e de outras fontes. Ela pagou Lil Buck US$ 200 por semana (valor que acabou chegando a US$ 300) para que ele frequentasse sua escola. Em várias ocasiões pagou táxis para ele, em função dos transportes públicos ruins. Ela faz o mesmo para alguns de seus alunos atuais.

Em outubro, eu visitei a New Ballet Ensemble and School, em Memphis, que Katie Smythe fundou e dirige. Um garoto quase milagroso de 13 anos, Tajari Benson, conhecido como TJ, fez o "Cisne". Uma semana antes, ele tinha dançado o número com Yo-Yo Ma num concerto da Orquestra Sinfônica de Memphis.

Sua sutileza rítmica, sua fluência física e sua atenção musical eram surpreendentes. Era possível sentir, durante uma só nota, a grandeza do cisne em pleno voo.

O aspecto que mais chamou minha atenção na dança desse pequeno prodígio foi a naturalidade total com que ele expressou a vulnerabilidade do cisne. TJ iniciou o solo de joelhos e o concluiu retornando à posição ajoelhada para dobrar-se numa posição de cisne que descansa. Não houve sofrimento ou protesto -apenas um cisne-menino no chão, com a cabeça para baixo, encontrando uma imobilidade final.


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