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New York Times

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RICHARD W. STEVENSON
ANÁLISE

Corte nos gastos une Partido Republicano

Republicanos passam por crise interna

WASHINGTON - Governadores conservadores estão aderindo a medidas da lei de reforma da saúde que eles antes, em tom de desdém, qualificavam de "Obamacare". Republicanos destacados no Senado vêm assumindo posições sobre a imigração que, durante as primárias do ano passado, teriam levado os candidatos presidenciais do partido a serem vaiados. O casamento gay, antes combatido regularmente pela base conservadora, vem ganhando aceitação ampla.

Na realidade, os legisladores republicanos estão com tanto medo de questões sociais que líderes na Câmara dos Deputados ignoraram objeções intensas da base conservadora e permitiram que fosse aprovada uma legislação democrata sobre violência sexual e doméstica contra mulheres.

Tudo isso ajuda a explicar porque o presidente da Câmara, John A. Boehner, e outros parlamentares republicanos estão tão determinados a derrotar o presidente Obama na disputa em torno do Orçamento. Cientes de que os conservadores jamais aceitariam uma segunda rodada de aumentos nos impostos neste ano -e que fazer concessões a Obama levaria a divisões internas no Partido Republicano muito mais profundas do que as que emergiram até agora-, os republicanos avaliaram que a melhor opção seria assumir os riscos econômicos e políticos associados aos US$ 85 bilhões em cortes automáticos nos gastos que entraram em vigor em 1° de março.

A única questão que realmente une os republicanos é o compromisso de encolher o governo federal, por meio de cortes nos gastos, impostos baixos e menos regulamentação. Se tivessem feito novas concessões e concordado com mais aumentos nos impostos ou em reverter cortes nos gastos, isso teria deixado os republicanos profundamente divididos e, dizem muitos deles, correndo o risco de perderem o núcleo da identidade partidária.

"Se o eleitor não puder contar conosco para opor resistência ao trem descontrolado dos gastos sociais, deficits e dívida federal, poderá contar conosco para o quê?", explicou David Kochel, consultor republicano no Iowa.

Uma das características mais marcantes do clima político desde a reeleição de Obama é que já não está inteiramente claro o que significa ser republicano. O partido está mais dividido que nunca sobre política doméstica, e um debate está começando sobre a melhor maneira de injetar ânimo novo no movimento conservador.

Nesse sentido, o confronto em torno do Orçamento não diz respeito apenas a reduzir os gastos do governo nos próximos sete meses. Para muitos conservadores, o que está em jogo é mostrar que os republicanos ainda têm a vontade política, a liderança e o apoio público necessários para aproveitar este momento para frear, ou pelo menos desacelerar, a oscilação para a esquerda do pêndulo ideológico.

O fato de assumirem a linha dura em relação a cortes nos gastos encerra riscos para os republicanos. Os democratas vêm destacando estimativas do Escritório Orçamentário Congressional de que os cortes fiscais possam deixar a economia com 750 mil empregos a menos neste ano. Eles estão avisando que os cortes vão acabar por afetar os eleitores de maneiras perceptíveis.

"Não vejo a diferença entre 'estou de acordo com os cortes nos impostos e gastos governamentais' e 'estou de acordo com crescimento mais lento e desemprego alto e contínuo'", disse Jared Bernstein, ex-assessor econômico do vice-presidente Joseph R. Biden Jr. Membro sênior do grupo liberal de pesquisas Centro de Prioridades Orçamentárias e Políticas, Bernstein disse que, à medida que os cortes entrarem em vigor, serão "desacreditados profundamente" aqueles que fomentam a ideia de que gastos governamentais sejam inerentemente um desperdício e que reduzi-los não encerra consequências negativas.

Na opinião de alguns comentaristas conservadores, o Partido Republicano e o movimento conservador estão vivendo um de seus pontos mais baixos em anos -"sem lideranças e quase sem questões a defender", escreveu Rich Lowry, editor da "National Review", em artigo para a "Politico".

Num artigo na seção de opinião intitulado "Como salvar o Partido Republicano", dois veteranos da Casa Branca do presidente George W. Bush, Michael Gerson e Peter Wehner, disseram que o partido poderia se reerguer com uma agenda de mobilidade social que não se limitasse à defesa dos impostos baixos, abrangendo a redução dos incentivos fiscais para corporações, o desmembramento de grandes bancos, a ajuda a estudantes pobres para chegarem à universidade e a concluírem, e a melhora do atendimento de saúde para crianças.

Por enquanto, Boehner está mais do que ocupado procurando coordenar diariamente as demandas de conservadores de vertentes diversas, sem introduzir uma vertente mais ativista na agenda republicana. Quando fala sobre impostos, ele continua a enfatizar a redução das alíquotas de imposto de renda.

Mas, com a probabilidade de os cortes orçamentários automáticos continuarem em vigor por algum tempo, se não permanentemente, a atenção em Washington vai passar para os planos orçamentários de longo prazo a serem introduzidos nas próximas semanas pelo deputado Paul D. Ryan, o candidato republicano a vice-presidente no ano passado, pelos senadores democratas e por Obama.

São esses documentos que oferecem a ambas as partes a melhor oportunidade de definir para os eleitores que posições eles vão defender durante o restante da Presidência de Obama e depois dela.


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