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New York Times

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Morador pobre paga pelo progresso nigeriano

Por ADAM NOSSITER

LAGOS, Nigéria - Retroescavadeiras do governo chegaram no final de fevereiro e puseram abaixo a casa de madeira de John Momoh e outras semelhantes, deixando desabrigados 10 mil dos mais pobres moradores de Lagos e destruindo uma favela que existia havia décadas, Badia East.

Durante dias, moradores perplexos e indignados vagaram pelos escombros, perto de bairros valorizados de Lagos. Crianças pequenas dormiam no chão lamacento. Homens subiam e fuçavam nas pilhas de entulho.

"Perdi tudo", disse Momoh. "Estamos tentando retirar algumas ripas de madeira para procurar nosso pão de cada dia", afirmou, cutucando os detritos. "Não temos dinheiro para comer."

Sob o comando de um governador cheio de energia, Lagos -uma megalópole lotada, onde vivem talvez 21 milhões de pessoas, com arranha-céus, lagoas sujas, congestionamentos ferozes e vastas favelas- proclamou a ambição de se tornar o maior polo empresarial da região ou mesmo da África.

Projetos habitacionais e de infraestrutura abundam, incluindo uma rede de veículos leves sobre trilhos, cuja estrutura já avança sobre bairros populosos, e um vasto e luxuoso conjunto comercial e residencial construído sobre o Atlântico, ao estilo de Dubai, recém-inaugurado pelo ex-presidente dos EUA Bill Clinton.

Nessa visão reluzente, as favelas tem um futuro incerto. Dois terços da população vivem em bairros "informais", como descrevem os ativistas, e mais de 1 milhão de pobres da cidade foram expulsos das suas casas nos últimos 15 anos, geralmente sem aviso prévio, segundo ONGs locais.

A truculência do governo nigeriano com os pobres, que representam pelo menos 70% da população, foi novamente visível em Badia East, onde há agora a ameaça de novas demolições.

Ativistas dizem que valentões das ruas, muitos contratados por US$ 10 pelos esquadrões governamentais de demolição, ocupam-se dos lugares onde as escavadeiras não entram, derrubando as esquálidas estruturas com marretas e, segundo Momoh e outros, furtando os pertences dos moradores.

Muitos disseram ter recebido um prazo de 20 minutos para juntar suas coisas. "Todo mundo corria numa confusão", disse o morador Femi Aiyenuro, acrescentando que quem voltava para recuperar objetos corria o risco de ser agredido com coronhadas.

O comissário estadual para a habitação, Adedeji Olatubosun Jeje, ofereceu uma versão diferente dos fatos. "É uma regeneração de uma favela", disse. "Damos notificação suficiente. O governo pretende desenvolver 1.008 unidades habitacionais. O que retiramos são apenas barracos. Ninguém estava morando naqueles barracos. Talvez tivéssemos um par de invasores vivendo lá."

Quanto às novas moradias, "não há chance de que eles possam pagar", disse Felix Morka, diretor-executivo da ONG Centro de Ação dos Direitos Socioeconômicos.

Morka, advogado formado em Harvard, contesta na Justiça as demolições feitas pelo governo. "Eles querem uma Lagos bonita, agradável e reluzente", disse. "Mas eles estão fazendo isso sem ter consideração pelas pessoas que vivem aqui."

Aiyenuro, um segurança que disse ter construído sua casa sozinho, disse: "Tínhamos milhares de pessoas morando aqui. Agora está tudo destruído".


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