Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Opinião

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Bebê real

Depois de muito desgaste nas últimas décadas, os fados voltam a sorrir para a família real britânica.

Ainda se comemoravam os 60 anos da coroação de Elizabeth 2ª quando o nascimento de seu bisneto George Alexander Louis, filho do duque e da duquesa de Cambridge, permitiu que às pompas do jubileu se sucedesse nova fase, agora de derretimentos e fofuras.

A beleza e a discrição de Kate Middleton, ao lado do encabulado mas simpático William, fez com que o Reino Unido reencontrasse o encantamento desaparecido desde que o casamento de Charles e Diana, nos anos 1980, dava seus primeiros sinais de crise.

Passados o abatimento e o prejuízo com a morte de Lady Di, a monarquia tornou-se mais hábil na tarefa de administrar tanta exposição e cultivar imagem mais favorável --o que inclui, por vezes, jogar o peso real contra a imprensa.

Mais que em outro caso de culto às celebridades, a família Windsor tem o tempo a seu favor. O pequeno príncipe de Cambridge é o terceiro na linha de sucessão --e é razoável supor que não venha a assumir o trono nos próximos 50 anos.

A perspectiva de tal continuidade contrasta com um planeta que conhece ritmos acelerados de mudança. Em que, para lembrar a célebre frase de Marx e Engels (que, aliás, citavam Shakespeare), "tudo o que é sólido se dissolve no ar".

Nos tempos de Marx, nada pareceria tão antiquado como um regime monárquico. Ainda hoje a tendência para a igualdade social e para a dessacralização não desmente as expectativas, tantas vezes frustradas, dos revolucionários de 150 anos atrás.

Todavia, a necessidade dos britânicos de manter alguma tradição e identidade nacional mostra-se tão forte quanto o desejo de ter à disposição a crônica de esparrelas vividas pelos mais privilegiados.

Com uma função afetiva que oscila entre a de símbolo patriótico e a de mascote doméstico, a família real atende às pressões contraditórias de um mundo em que fronteiras econômicas se dissolvem e barreiras de classe, raça ou nacionalidade permanecem.

As origens familiares de Kate Middleton decerto se encaixam nesse contexto. Filha de um empresário da internet, conta vários trabalhadores braçais entre seus antepassados não muito distantes.

George, filho da plebeia com o príncipe, completa uma fábula que continua sendo contada só para inglês --e o mundo-- ver.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página