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Sozinho contra a inflação
Sem sobressaltos, o Banco Central promoveu nesta semana novo aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, que chegou a 9,5% ao ano.
Adotada por decisão unânime, trata-se da quinta elevação consecutiva. A julgar pelo comunicado oficial da instituição, é muito provável outro incremento da Selic em novembro, quando o Comitê de Política Monetária fará sua última reunião do ano.
Na superfície, a trajetória ascendente da taxa de juros parece não se ajustar à curva da inflação acumulada nos últimos 12 meses. Pela primeira vez neste ano, o índice ficou abaixo de 6%.
Os 5,86% verificados até setembro, contudo, não representam patamar confortável. Longe disso. A inflação continua distante do centro da meta fixada pelo próprio governo (4,5%, com intervalo de dois pontos para mais ou para menos), e a previsão oficial para 2014 é de 5,7%.
Mais importante, porém, é ter em mente os desafios trazidos à política econômica em anos de eleição presidencial. A experiência mostra que, nesses períodos, governantes pouco se preocupam em controlar os cofres públicos. Aumento de gastos governamentais --ou seja, mais dinheiro na praça-- gera, naturalmente, pressão nos preços praticados pelo mercado.
Aspecto particularmente relevante diante de governo que, entre a cautela com a alta da inflação e a tentativa de aquecer a economia, sobretudo pela via do consumo, sempre escolhe a segunda opção.
Há mais, entretanto. Os riscos inflacionários não advêm somente de maiores gastos públicos.
Ainda que a desvalorização do real diante do dólar tenha sido atenuada nas últimas semanas, persiste a preocupação com repasses a bens de consumo e insumos importados. Por fim, em algum momento ocorrerá aumento nos preços da gasolina, defasados em relação aos praticados no exterior.
O impacto do represamento de outras tarifas administradas, como a da energia, também diminuirá com o tempo, sem que outros fatores inflacionários percam força.
O Banco Central sabe que está solitário na tarefa de zelar pelo controle da inflação. Manter o aumento da taxa de juros no país é o que lhe cabe fazer nesse contexto. Mas as expectativas de consumidores e empresários poderiam ser melhores se a elevação ocorresse em ritmo menos acentuado daqui para a frente.