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Devagar com as crianças

Judô, balé, escolinha de artes, aula de inglês, natação --e, frequentemente, alguma terapia por cima da mistura. Compõe-se desse modo, com múltiplas atividades, a rotina de um grande número de crianças da classe média brasileira.

Tanta coisa interessante pode resultar em estresse sem motivos e em perda de independência e criatividade. É o que argumentam os seguidores do "slow parenting" (pais sem pressa), movimento que foi tema de reportagem na seção Equilíbrio desta terça-feira.

A tese nada tem de implausível. Cabe perguntar, todavia, o quanto também pode conter de nostalgia romântica. Na memória de muitos adultos, fixou-se a imagem de uma infância mais simples e feliz, em contraste com a de seus filhos.

Especulações à parte, é inegável que muitos fatores contribuem para o atulhamento da agenda infantil --e para o estresse, se não das crianças, dos próprios pais.

Diferentemente de países europeus, as escolas daqui não adotam período integral. Há resistências culturais a isso; como imaginar um filho oito horas fora de casa?

O resultado é que sobra tempo para as crianças. Diante da alternativa (horas dentro de um apartamento, diante da TV ou do videogame), é natural que surjam ofertas de educação paralela, capazes de descobrir ou desenvolver talentos que a escola não explora.

A fantasia de um filho multitalentoso, o desejo de abrir-lhe o máximo de possibilidades, a percepção de que nas horas livres não terá tantas ocasiões de conviver com os pais --tudo encaminha a criança para mais aulinhas e atividades.

Por mais que se considere, ainda, o Brasil como um lugar vocacionado à indolência tropical, o fato é que o modelo da competitividade e do trabalho se imiscui às próprias atividades de lazer. O tão saudável hábito do hobby não deixa de ser um cruzamento entre a vida laboral e o ócio absoluto.

Será que este ócio absoluto, contemplativo, vegetal, tem espaço nos dias de hoje? Pode ser, como em toda vida ligada aos ritmos da natureza, o ingrediente necessário para que a alma, como as árvores e as frutas, amadureça. Pode opor-se, entretanto, à também natural inquietude humana.

Encontrar o equilíbrio, na vida das crianças como na dos adultos, seria o ideal. Mas só seria capaz disso, sem dúvida, quem já desfruta dele internamente.


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