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Bernardo Mello Franco
Junto e misturado
RIO DE JANEIRO - No Rio de Sérgio Cabral, público e privado andam como a letra do funk: tudo junto e misturado. Em 2010, descobriu-se que a mulher do governador recebia como advogada da concessionária que explora o metrô. O peemedebista se recusou a explicar o conflito de interesses. O Ministério Público se recusou a investigar o caso. De lá para cá, o serviço só piorou. Na semana passada, duas notícias indicaram que continuará assim.
Em mensagem à Assembleia Legislativa, Cabral indicou um novo conselheiro para a Agetransp, a agência que regula os transportes no Estado. O escolhido, César Francisco Ferraz Mastrangelo, atuou até março como vice-presidente da concessionária Metrô Rio. Agora será encarregado de fiscalizar os ex-patrões.
No mesmo dia, o secretário de Transportes da prefeitura, onde Cabral também dá as cartas, agraciou a empresa com a Medalha do Mérito da Mobilidade Urbana. A homenagem cita seu "elevado grau de eficiência, profissionalismo, empenho e dedicação" na Jornada Mundial da Juventude. Na abertura do evento, o metrô parou por duas horas, deixando milhares de peregrinos a pé. Nem o constrangimento causado ao papa Francisco impediu a condecoração.
O metrô do Rio tem apenas duas linhas, mas cobra a maior tarifa do país. Os vagões vivem superlotados. O ar-condicionado quebra a toda hora. As catracas não aceitam o bilhete único dos ônibus. Em vez de punir a concessionária pelo péssimo serviço, Cabral prorrogou seu contrato por mais 20 anos. Sem licitação, é claro.
Em um trecho do programa eleitoral de 2010, disponível no YouTube, o governador diz: "Eu gosto muito dessa palavra mistura. É aquela expressão bem carioca: tudo junto e misturado". O contexto era outro, mas não interessa. Se eu fosse documentarista, guardaria a cena com carinho. No futuro, ajudará a contar como era o Rio de Cabral.