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Opinião

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Verdadeiro mártir

Com a intensificação do terrorismo islâmico, nada mais comum do que o emprego da palavra "mártir" para designar os ensandecidos que, carregados de bombas, dão cabo de si mesmos e vitimam dezenas de inocentes.

O termo recuperou, entretanto, sua trágica e assustadora nobreza no último dia 6, no distrito de Hangu, região tribal do noroeste paquistanês. Nessa data, um menino com cerca de 14 anos, a caminho da escola, notou a aproximação de um desconhecido, vestido em uniforme de colegial.

Interpela-o; ele reage; os dois se atracam. Era um homem-bomba. No quadro de uma investida de extremistas sunitas, pretendia realizar um atentado contra a escola, frequentada por xiitas.

O artefato explode, matando o terrorista e o estudante. Com isso, Aitzaz Hassan Bangash evitou a morte de dezenas de seus colegas. Teria ignorado os apelos de estudantes próximos para que desistisse de desarmar o extremista.

Com altivez inusitada aos olhos ocidentais, o pai do rapaz declarou-se "feliz" por ver o filho sacrificar-se em nome de uma "causa nobre". Sem o presumível peso dos laços de afeição, a ex-embaixadora paquistanesa em Washington encontrou palavras do mesmo teor.

"O mártir Aitzaz Hassan é o orgulho do Paquistão", disse; "é mais um adolescente capaz de coragem que faz nosso coração estremecer".

Referia-se, sem dúvida, à jovem Malala Yousafzai, vitimada por um tiro no rosto por adeptos do Talibã. Malala recebeu reconhecimento internacional por lutar pelo direito à educação das mulheres, vedado pelo extremismo. Noticia-se, aliás, que já fez uma doação para a família de Aitzaz, com os recursos que recebeu de suas premiações.

É de perguntar quais serão as consequências de episódio tão marcante. Em conflitos sectários na região, tende a prevalecer o impulso pela retaliação.

Menos do que a vingança, contudo, parece espalhar-se comoção mais pura com o caso do adolescente. Mostra que a coragem não está apenas em lançar-se à guerra, mas também em evitar a morte e a violência.

No seu sentido mais usual, o mártir é aquele que, em nome de sua fé, torna-se vítima dos que o perseguem. O uso da palavra para designar os autores de atentados suicidas é tema controverso no próprio islamismo.

Evitem-se, aqui, as controvérsias teológicas. Não é preciso fé de nenhuma espécie --exceto a que, de vez em quando, se possa ter na própria humanidade-- para chamar esse jovem de herói.


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