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Opinião

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Juan Jensen

Falso antagonismo

Um Banco Central e um Ministério da Fazenda com credibilidade poderiam baixar a inflação sem sacrificar o mercado de trabalho

Apesar de termos uma conjuntura marcada por elevada inflação e baixo desemprego, a teoria econômica mostra que é possível baixar a primeira e manter o segundo.

É fato que o Brasil dos últimos anos mostrou uma taxa de inflação alta, com média de 6,1% entre 2011 e 2013, com crescimento baixo, de apenas 2% ao ano. O curioso é que, mesmo com o mau desempenho, a taxa de desemprego se reduziu nesse período, de 6,7% em 2010 para 5,4% no ano passado, chegando ao que os economistas se referem como pleno emprego (conceito este compatível com uma taxa de desemprego baixa e estável, como a atual, mas não zerada).

Antes de entender como podemos voltar a ter um quadro de baixa inflação com pleno emprego, que poderia ser alcançado no médio prazo, com uma política econômica consistente, é importante entender como chegamos ao quadro atual.

Uma economia pode crescer por basicamente três fatores ao longo do tempo: incorporação de mão de obra, aumento de capital físico ou ganhos de produtividade. Nos últimos anos, o Brasil cresceu pouco, apesar de o emprego e o estoque de capital terem crescido. A razão foi a queda da produtividade, que se reduziu 0,55% ao ano, em média, em 2011, 2012 e 2013. Queda da produtividade ocorre quando uma determinada quantidade dos fatores de produção (capital e trabalho) passam a produzir uma menor quantidade de bens e serviços. Como nossos trabalhadores estão menos produtivos, já dá pra entender por que chegamos ao quadro de crescimento do emprego, mesmo num quadro de baixo crescimento.

Mas e a inflação? A falta de mão de obra é um fator que conjunturalmente afeta preços, ainda mais em um ambiente em que os salários sobem e a produtividade cai. Não é à toa que os preços dos serviços têm crescido ainda mais que o IPCA cheio (índice oficial de inflação).

Mas outras ações do governo, baseadas na denominada "nova matriz econômica", contribuíram enormemente para que a inflação ficasse pressionada nos últimos anos. Essas ações foram basicamente uma política fiscal e monetária fortemente expansionistas, aliadas a medidas para desvalorizar o real, que pressionaram preços de bens importados ou que tenham referências de preços no mercado internacional.

Então, como conciliar a manutenção de um quadro de baixo desemprego com baixa inflação? A resposta está não somente na política econômica, mas na credibilidade de seus executores.

Um Banco Central e um Ministério da Fazenda que gozem de elevada credibilidade (infelizmente, não é o caso da atual equipe), adotando certas políticas, poderiam trazer a inflação para baixo sem sacrificar muito a atual situação do mercado de trabalho. Assim, no médio prazo, poderíamos conviver simultaneamente com um quadro de baixa inflação e pleno emprego.

A política econômica necessária para chegarmos a esse quadro passa por resgatar integralmente o antigo tripé de política macroeconômica, baseado em um Banco Central com autonomia operacional para alcançar a meta de inflação, uma política fiscal com a geração de elevados superávits primários (e sem nenhuma contabilidade criativa) e uma taxa de câmbio flutuante.

Além disso, medidas para aumentar a produtividade como concessões e privatizações de serviços públicos, melhoras no nosso sistema tributário e no nosso sistema educacional, abertura da economia, entre outras poderiam colocar o país novamente nessa rota.

E não é necessário muito tempo para chegarmos lá. Em um cenário otimista projetado pela Tendências Consultoria, no qual essas premissas são adotadas, o Brasil volta a crescer perto de 4% ao ano, o desemprego recua para patamares abaixo de 5% e a inflação converge para o centro da meta em um horizonte de três ou quatro anos.


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