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Opinião

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Hélio Schwartsman

O tempo e o mensalão

SÃO PAULO - "O tempo vai se encarregar de provar que o mensalão teve 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica", afirmou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas será que vai mesmo? Ainda que sem querer, Lula tocou numa questão interessante: a passagem do tempo melhora ou piora nossa apreciação de fatos históricos?

Não há dúvida de que, para um determinado nível de explicação, o afastamento é necessário. Em 1789, durante a Revolução Francesa, no calor dos acontecimentos, era impossível arriscar um bom palpite sobre o sentido histórico daqueles eventos.

O problema de fundo aqui é que, em toda cadeia complexa de acontecimentos, na qual cada evento se desdobra com algum elemento de incerteza, existe uma enorme assimetria entre passado e presente.

Um caso clássico é o dos supostos erros cometidos pela CIA no 11 de Setembro. Quando se conhece o final da história e as incertezas se dissiparam, é fácil juntar as informações dispersas que diferentes órgãos dispunham e concluir que houve incompetência dos serviços de segurança. Mas, antes de os atentados terem ocorrido, não era tão simples distinguir, dentre os milhares de dados coletados por várias agências, aqueles que eram relevantes do que era ruído.

É possível, como quer Lula, que o afastamento temporal contribua para mudar certas interpretações históricas do mensalão, como o exato impacto que ele teve sobre o PT e sobre as instituições do Estado brasileiro. Parece-me improvável, entretanto, que o transcurso do tempo ajude a esclarecer a natureza das ações cometidas pelos réus e quanta informação cada um dos agentes (Lula incluído) detinha sobre o esquema.

Estamos aqui no campo da arqueologia dos fatos, que tem muito mais a ver com investigações criminais do que com historiografia e, nessa seara, a passagem do tempo é inimiga, e não aliada. Quanto mais frio o caso, mais difícil é elucidá-lo.


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