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Opinião

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Alinhamento oriental

Se a recém-anunciada parceria entre Rússia e China mudará o equilíbrio global, com a criação de um polo oriental de poder em oposição aos EUA, só o tempo dirá.

Já se sabe, contudo, que o acordo de US$ 400 bilhões, pelo qual Moscou venderá gás a Pequim por 30 anos, representa uma derrota para a diplomacia norte-americana e uma inquestionável vitória para o autocrata russo Vladimir Putin.

Não é apenas a cifra fabulosa que está em questão. De uma tacada, a Rússia consolidou uma aliança estratégica e assegurou uma alternativa ao mercado europeu de gás --ativo particularmente valioso para contornar sanções como as que se seguiram à crise na Ucrânia.

A China, por sua vez, reduz sua dependência do carvão, fonte de energia extremamente poluente.

No plano geopolítico, o estreitamento de laços reforça movimentos de reconfiguração do tabuleiro global. Se a perspectiva de uma nova ordem bipolar já era considerável diante da trajetória da China, hoje segunda maior economia do planeta, ela se torna mais factível com a associação de longo prazo entre Moscou e Pequim, com poderio nuclear e direito a veto no Conselho de Segurança da ONU.

As circunstâncias globais, porém, diferem das que cercaram o confronto entre o mundo capitalista e o socialista no século passado, a começar pelo atual entrelaçamento de interesses econômicos.

A União Europeia (UE) é a maior parceira internacional dos chineses, com um fluxo bilateral de cerca de US$ 560 bilhões em 2013. Os norte-americanos vêm a seguir, com trocas de US$ 520 bilhões.

A China também detém mais de 20% da dívida do Tesouro americano em mãos de outros países e abriga em seu território milhares de empreendimentos ocidentais.

A Rússia, por seu turno, continuará pelos próximos anos a ter na UE o principal destino de seu gás, uma vez que as vendas para Pequim não superam os preços contratados com os europeus.

Deve-se acrescentar, ainda, uma dose de incerteza acerca da evolução política interna dos dois países e da viabilidade de uma aliança equilibrada e duradoura, dada a desproporção entre as nações --a economia da Rússia equivale a menos de um quarto da chinesa.

O cenário de uma nova Guerra Fria, embora sugestivo e plausível, precisa ser matizado. Caso se concretize, como muitos creem, o mais provável é que assuma características mais amenas e contraditórias do que as observadas na polarização que vigorou no século 20.


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