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Doutrina Obama
Em discurso simbólico, proferido na cerimônia de formação de cadetes de uma prestigiosa academia militar dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama defendeu a desmilitarização da política externa de seu país e a consequente valorização da diplomacia como meio de solucionar conflitos.
Foi esse, com efeito, o caminho escolhido por sua administração, em contraste com o período de George W. Bush, marcado pela exacerbação bélica sob a justificativa de combater o terrorismo.
Bush teve apoio internacional para a ação militar no Afeganistão, após o 11 de Setembro, mas ultrapassou os limites ao decidir unilateralmente pela invasão do Iraque.
As duas guerras se alongaram, e os planos intervencionistas defendidos pelos neoconservadores republicanos revelaram-se uma perigosa --e custosa-- quimera.
Obama tem encontrado dificuldades para redirecionar o país, em meio a pressões políticas e interesses do vasto complexo militar. A promessa de desativar a base de Guantánamo, em Cuba, foi abandonada; a de rapidamente retirar as tropas daquelas duas frentes tampouco pôde ser cumprida.
A crise econômica agravou a situação interna, e o prestígio do mandatário declinou nos últimos anos. A oposição passou a repetir que o democrata teria inclinações estatizantes e, no plano externo, seria um líder fraco.
O presidente, não obstante, seguiu com suas linhas de ação. Promoveu a retirada do Iraque e, nesta semana, anunciou para o final de seu mandato, em 2016, o encerramento da presença ostensiva de tropas no Afeganistão -- depois de ter eliminado Osama bin Laden.
Seu governo também evitou uma ação militar na Síria, entabulou negociações com o Irã sobre a questão nuclear e dialogou com a Rússia durante a crise na Ucrânia.
A reorientação parece ter amparo na opinião pública. Segundo pesquisa do instituto Pew, 52% dos americanos consideram que os EUA "devem deixar que os demais países se virem entre si" --o índice mais elevado dos últimos 50 anos.
Há respaldo político, pois, para Obama afirmar que os maiores erros dos EUA desde a Segunda Guerra decorreram de aventuras militares às quais o país se atirou sem pensar nas consequências.
Consolidadas as bases dessa nova política externa, reforçada pelo recente discurso presidencial, haveria uma bem-vinda redução do ímpeto militarista do país.