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Pantomima síria

Em meio a uma guerra civil que se arrasta há três anos, o ditador da Síria, Bashar al-Assad, venceu nesta semana o simulacro de eleições presidenciais em seu país, garantindo para si o direito de permanecer no poder por mais sete anos.

Foi, é claro, um mero truque formal; seu posto jamais esteve democraticamente em disputa. A votação, porém, serviu ainda assim para demonstrar a força do regime.

Segundo os duvidosos números oficiais, Assad, 48, obteve 89% dos votos, com um comparecimento de 73% do eleitorado. O resultado lhe dá o terceiro mandato consecutivo.

Como ocorre há mais de quatro décadas, a eleição não faz mais que ratificar a ditadura implantada pelo general Hafez al-Assad. Pai do atual déspota, liderou um golpe de Estado em 1970 e se manteve no comando do país por meio de dura repressão. Morreu em 2000, quando foi substituído pelo filho.

Se há uma particularidade no pleito deste 2014 é que, pela primeira vez desde a ascensão dos Assad, houve a concorrência protocolar de outros candidatos. Mesmo agora, contudo, os dois novos postulantes eram aliados do ditador fazendo as vezes da oposição --esta, a autêntica, está entrincheirada, encarcerada ou exilada.

Não surpreende, portanto, que a União Europeia e os EUA tenham considerado a disputa uma farsa. Mas isso não apaga os relatos e as imagens que sugerem participação significativa em quase toda a Síria, exceto em algumas regiões controladas por rebeldes armados.

Somada a recentes avanços das tropas governistas, a eleição reforça a impressão de que Assad está vencendo a guerra civil, cujo saldo funesto já chega a 160 mil mortos e 3 milhões de refugiados, num país de 22 milhões de habitantes.

Trata-se, para os EUA, de mais um revés num conflito que só tem gerado prejuízos. No começo deste ano, o diplomata Robert Ford renunciou ao cargo de embaixador para a Síria; ao explicar sua decisão, dias atrás, afirmou que já não conseguia defender a política norte-americana relativa a Damasco.

O presidente Barack Obama sem dúvida acumulou fracassos na Síria. A crítica, todavia, contém certa injustiça --a China e sobretudo a Rússia bloquearam retaliações ao aliado no Oriente Médio. Além de não terem o apoio da comunidade internacional para uma intervenção, os EUA ainda enfrentam essa objeção nada desprezível.

Enquanto as potências se obstruem no plano internacional, Bashar al-Assad, e a matança com ele, avança no campo doméstico.


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