Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Opinião

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Hélio Schwartsman

Herança problemática

SÃO PAULO - O livro é dinamite pura. Em "A Troublesome Inheritance" (uma herança problemática), Nicholas Wade, jornalista científico dos mais reputados, com passagens por "Nature", "Science" e "New York Times", sustenta não só que as raças humanas têm base genética como ainda que elas explicam parte das diferenças de desenvolvimento entre os povos.

Como não poderia deixar de ser, a reação à obra foi veemente. Uma rápida busca na internet revela uma coleção de resenhas francamente negativas. E o livro de fato apresenta problemas (boa parte deles admitidos pelo próprio autor). Apesar disso, vale muito a pena ler "A Troublesome". No mínimo, ele atualiza o leitor sobre estudos em genética comportamental e populacional que, se não são suficientes para firmar a noção de raça, bastam para mostrar que só a cultura não explica tudo. Em algum grau é preciso recorrer à biologia e à evolução. E evidências de DNA revelam que o homem foi submetido a pressões evolutivas recentes, abundantes e geograficamente definidas.

O ponto fraco do livro é que somos quase completos ignorantes em relação à genética comportamental. Sabemos apenas que traços como inteligência, sociabilidade e propensão à violência são em boa medida hereditários, mas não temos muita ideia de que gene faz o quê. Com isso, cerca de 2/3 do livro de Wade se baseiam mais em especulações do que em dados sólidos. É principalmente aí que os críticos caíram matando.

Seja como for, "A Troublesome" tem o grande mérito de levantar o problema: será que nossas legítimas preocupações em evitar que a ciência volte a ser posta a serviço de regimes racistas não estão nos impedindo de investigar um amplo campo de fenômenos legítimos? Eu, como Wade, penso que sim. Não devemos ter medo de fazer pesquisas porque suas conclusões podem nos desagradar. O argumento consistente contra o racismo é moral e não científico.

helio@uol.com.br


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página