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Ruy Castro
Meninos que fazem
RIO DE JANEIRO - Aos 4 minutos de jogo entre Brasil x Suécia, na final da Copa do Mundo de 1958, os suecos, donos da casa, fizeram 1 x 0. Era a única coisa que a comissão técnica brasileira rezava para que não acontecesse. Nos cinco jogos anteriores, o Brasil nunca saíra atrás no placar. Como reagiria a começar perdendo? E, apesar da bela campanha da seleção até então, ainda pairava uma certa vira-latice, com raízes nas Copas de 1938, 1950 e 1954 --a de que fracassávamos em partidas decisivas.
Mas não daquela vez. Bellini, zagueiro e capitão do Brasil, foi ao fundo das redes e pegou a bola. Calmamente, entregou-a a Didi na meia-lua. Didi colocou-a debaixo do braço e atravessou o campo, caminhando, até o grande círculo. Passou-a a Vavá para este dar a saída e disse: "Vamos encher esses gringos". No fim, Brasil 5 x 2.
Entre os brasileiros em campo naquela tarde, Nilton Santos tinha 32 anos; Didi, Djalma Santos e Gilmar, 29; Bellini, 28; Zagallo, 26. Compensavam com sobras os 23 de Vavá, 22 de Orlando e 17 de Pelé. Terminado o jogo, chorou quase todo mundo --as fotos mostram Gilmar, Orlando, Pelé e Zagallo abrindo o bué; Zito, Didi e Nilton Santos, circunspectos; Bellini, olho rútilo e lábio trêmulo.
O Brasil que jogou a final da Copa de 1970, no México, 4 x 1 sobre a Itália, também era um time de adultos: Felix, 32 anos; Brito, 30; Gerson e Pelé, 29; Piazza, 27; Carlos Alberto, Everaldo e Jairzinho, 25. Todos, homens feitos. Deles, só Tostão parece ter chorado. Mas o jogo já terminara e ele tinha boas razões para isso --por um problema grave no olho, precisara lutar muito para ir ao México e até para ser titular.
Os grandes também choram. Mas só depois de terminada a partida. Chorar no hino, durante o jogo ou a minutos de uma cobrança de pênaltis parece coisa de meninos que fazem nas calças, e pode nos custar caro.
