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Opinião

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Fantasias rasgadas

O Carnaval volta com força às ruas de São Paulo, mas é ingênuo acreditar que ele possa ser isolado da influência comercial na festa

Após a ressurgência do Carnaval de rua no Rio de Janeiro, em anos recentes, São Paulo parece contagiada pela ideia de reviver a festa em suas vias e praças. Já na semana anterior aos festejos oficiais, a cidade experimentou uma alegre epidemia de blocos carnavalescos.

O brilho e a tradição do Carnaval carioca e de outras cidades, como Salvador e Olinda, sempre deixaram em segundo plano as comemorações nesta capital. Os próprios paulistanos pareciam conformados com a constatação de que não é essa uma especialidade sua -e, não por acaso, deixavam a metrópole em busca de diversão (ou de paz) noutras paragens.

Foi o carioca Vinicius de Moraes quem cunhou a expressão "túmulo do samba" para se referir a São Paulo. Há ao menos uma versão menos depreciativa, todavia: o poeta, autor de tantas e memoráveis letras de canções, teria pronunciado a sentença, numa boate paulistana, por irritação com o ruído de frequentadores durante apresentação do cantor Johnny Alf.

Seja como for, o epíteto se eternizou. De fato combina com o estereótipo de cidade laboriosa e marcada pela imigração europeia essa sugestão de que lhe falta algo da alegria e da "ginga" litorânea -características recorrentes na composição da imagem dos brasileiros.

São Paulo, não obstante, tem suas tradições carnavalescas. Paralelamente aos folguedos inspirados na Europa, o chamado samba rural paulista nasceu nas fazendas que usavam mão de obra escrava. Depois reciclado no espaço urbano, em bairros operários, ganhou cadência mais acelerada.

Curiosamente, isso veio a influenciar os desfiles do Rio de Janeiro. Premidas pela necessidade de cumprir horários rígidos, nas apresentações formatadas pela era do sambódromo e pela programação da televisão, as baterias cariocas passaram a tocar em ritmo mais rápido.

Além disso, com desfiles orçados entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões, muitas escolas buscam patrocínios que resultam em enredos inusitados -da história da fama (sob os auspícios de uma revista de celebridades) aos royalties do petróleo (no interesse de municípios produtores).

O sempre criticado entrelaçamento com interesses publicitários e turísticos é, sem dúvida, um dos fatores que mais provocaram mudanças no perfil do Carnaval. É ingênuo, contudo, crer que se pode preservar a folia numa redoma.

Mesmo a propalada redescoberta do Carnaval de rua, antes de se revelar uma idealizada e nostálgica volta ao passado, já se encaixou na engrenagem comercial da festa. É esta, goste-se ou não, a realidade dessa semana de fantasias.


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