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Na avenida Paulista, major da PM 'ensina' grupo a protestar
PAULO GAMA DE SÃO PAULOUm policial militar escalado para acompanhar um protesto que reuniu cerca de 30 pessoas na noite da última quarta-feira, na região da avenida Paulista, assumiu um papel muito diferente daquele que os manifestantes se acostumaram a esperar das autoridades nas ruas.
Enquanto negociava com ativistas que tentavam ocupar o corredor de ônibus da rua da Consolação, única faixa da via que seguia livre, o major da PM Clécio da Silva atentou para outro grupo que conversava sobre a faixa de pedestres ao lado.
Caminhou até a roda e segurou pelo braço um rapaz com pano no rosto, touca, roupas pretas com bótons, carregando um cartaz em papel craft com os dizeres: "Os mensaleiros estão rindo de vocês! Acordem!".
"Garoto, tem vergonha de manifestar?", perguntou o major. O garoto não respondeu, mas o policial o conduziu mesmo assim até a calçada, do outro lado da rua.
"Pronto, fica segurando o cartaz aqui, de frente para os carros", instruiu. "Lá ninguém estava te vendo."
De volta ao local onde estava o resto do grupo, e diante da reação positiva à sua intervenção, continuou a organizar o protesto. "Vou ter que ensinar vocês, é?", brincou.
"Você, grandão, fica aqui", disse o major a Alexandre Morgado, que vestia camiseta do GAPP, o Grupo de Apoio ao Protesto Popular, uma entidade que assiste manifestantes com primeiros socorros durante os atos.
O "grandão" reclamou: "Mas aí vou fazer propaganda do grupo, não é o objetivo". O major rebateu: "Com esse tamanho e não quer fazer propaganda?".
Dali em diante, ele não parou mais. "Deixa o cartaz parado, senão ninguém consegue ler", disse a um manifestante. "Levanta mais esse braço", sugeriu a outro. "Aí você embaça o meu lado, sai do meio da rua", pediu a um terceiro, parado na frente dos carros, impedindo o trânsito de prosseguir na Consolação.
Com 48 anos, Silva está há 27 na Polícia Militar. "Já trabalhei em atos grandes, principalmente de 2000 a 2006, manifestações de professores e tudo", disse à Folha.
Ele diz que "trocar ideia" é a melhor maneira para que os protestos acabem de forma pacífica, sem ações violentas como ocorreu no início de junho. "A gente respeita essa liberdade de manifestar. Você viu como foi? É melhor que seja assim", afirmou.
Ao final, quando o ato se dispersava, voltou aos manifestantes: "Aprenderam?", perguntou, em tom de brincadeira. Uma garota que estava no protesto não se rendeu: "Nós aprendemos, e vocês? Quando vão aprender com a gente a agir pacificamente?".