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CNBB afirma que golpe de 1964 foi um 'erro histórico'

Entidade reconhece apoio de 'setores da Igreja Católica' aos militares

Comissão Nacional da Verdade diz que igreja não admite responsabilidade institucional no golpe

DE BRASÍLIA

Por ocasião dos 50 anos do golpe de 1964, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) afirmou ontem em nota que a tomada do poder naquele ano foi "um erro histórico" do qual setores da Igreja Católica fizeram parte.

Apesar de dizer que alas da igreja inicialmente apoiaram o golpe, a entidade ressalta que houve mudança de posição após a constatação de atos que vinham sendo adotados pelo regime militar --como perseguição, violência e morte de presos políticos.

Em sua manifestação de ontem, a CNBB disse que nem todos os danos causados pelo regime militar foram devidamente reparados.

"Se é verdade que, no início, setores da igreja apoiaram as movimentações que resultaram na chamada revolução', com vistas a combater o comunismo, também é verdade que a igreja não se omitiu diante da repressão tão logo constatou que os métodos usados pelos novos detentores do poder não respeitavam a dignidade da pessoa humana e seus direitos", diz a nota.

De acordo com o presidente da CNBB, o cardeal d. Raymundo Damasceno, "aos poucos a igreja foi percebendo que a finalidade desse movimento, desse golpe, que foi para preservar o país do comunismo, foi tomando outra direção, tortura, arbitrariedade, repressão a todas as formas de expressão".

"Com o passar do tempo, a igreja foi percebendo seus excessos, seus desvios, então a igreja se opôs", avaliou.

RESPONSABILIDADES

O consultor da Comissão Nacional da Verdade Jorge Atílio Iulianelli disse não ver avanços na manifestação da entidade católica.

"A nota, infelizmente, não é um avanço, na medida em que a igreja não reconhece a responsabilidade institucional, atribuindo a culpa a apenas uma parcela da instituição", afirma.

Iulianelli atua na análise do papel da Igreja Católica durante o regime militar. Ele recorda que, três meses após o golpe de 1964, a CNBB divulgou nota elogiando a ação militar, que acudiu os brasileiros e freou a "marcha acelerada do comunismo", sem derramamento de sangue.

A nota da CNBB dizia o seguinte: "Transborda dos corações o mesmo sentimento de gratidão a Deus, pelo êxito incruento de uma revolução armada. Ao rendermos graças a Deus, que atendeu às orações de milhões de brasileiros e nos livrou do perigo comunista, agradecemos aos militares que, com grave risco de suas vidas, se levantaram em nome dos supremos interesses da nação, e gratos somos a quantos concorreram para libertarem-na do abismo iminente".

O papa à época, Paulo 6º, também se manifestou a favor do regime.

Iulianelli diz ainda que a igreja também foi um espaço para críticas à ditadura e para o fortalecimento democrático da política brasileira. "A igreja tem essa situação de ambiguidade. A resistência ao regime teve muito mais força do que a complacência. Mas não reconhecer a complacência é um erro."


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