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Opinião

A 'Copa do Povo' de Copa tinha muito pouco

De dez entrevistados no largo da Batata, todos eram a favor do Mundial, mas unanimemente contra a gastança

ABRIGADOS SOB AS RARAS ÁRVORES DE UMA PRAÇA QUE NEM SEQUER BANCOS TEM, PMS CONCORDAVAM QUE SE GASTOU DEMAIS, 'E ROUBOU', DISSE UM DELES, PARA FAZER A COPA

JUCA KFOURI COLUNISTA DA FOLHA

Faltavam exatamente 90 minutos para começar a manifestação do MTST e cerca de 50 manifestantes já estavam no largo da Batata.

Ótima oportunidade para conversar com 10 deles, entre homens e mulheres, mais jovens e mais velhos.

Fruto dessas conversas iniciais o DataJK pode informar que nenhum deles era paulista, dois eram mineiros e os outros oito vieram do Nordeste.

Empregados na carteira profissional, apenas dois, e todos eram a favor da Copa do Mundo, embora unanimemente contra a gastança gerada pelo megaevento. "Torcerão pela seleção?" "É claro que sim!", quase ofendidos com a pergunta.

Dilma Rousseff não está nada bem na foto dos manifestantes. Se oito disseram ter votado nela, só dois admitem voltar a votar e, pasme, quando um pernambucano anunciou que votará no ex-governador de seu Estado, um dos mineiros também falou que votaria no ex do dele. "Mas num tucano?!".

A "Copa do Povo" de Copa tinha muito pouco e lembrava mais a da África do Sul, sob o alarido de vuvuzelas --verdade que verde e amarelas-- e apitos.

Cartão vermelho para os governos, todos, que não providenciam teto, mas fazem estádios desnecessários.

E faixas, muitas faixas vermelhas, uma delas, grande, com um recado direto para a presidente: "Dilma, não jogue espinhos nas estradas. Na volta você pode estar descalço (sic)".

Por volta das 16h15 as nuvens mandaram para baixo tudo que seu pretume anunciava minutos antes e despencou uma chuva forte, bem forte.

Abrigados sob as raras árvores de uma praça que nem sequer bancos tem, os soldados da PM concordavam que se gastou demais, "e roubou" disse um deles, para fazer a Copa do Mundo. "Eu assino embaixo de tudo o que essa gente pede, mas não pode badernar", ponderou.

Ali não parecia ter ninguém adepto de badernar coisa alguma. Os militantes que não se abrigaram resistiam à molhaceira cantando "pode chover, pode molhar, nós não temos mesmo onde morar".

Quando a chuva amainou e já ali pelas 18h30, talvez 4.000 manifestantes, muitas crianças, de colo, inclusive, se aglomeravam desde a estação Faria Lima do metrô até o largo.

Em mais dez entrevistas encontrou-se, enfim, um paulista, mais raro ainda, paulistano, do Capão Redondo, que ao responder em quem tinha votado para presidente na última eleição disse que havia sido "num vereador da região". Este não fazia a menor ideia em quem votará na próxima eleição, ao contrário dos demais nove, todos torcedores da seleção, todos a favor da Copa do Mundo e contrários ao quanto custou, eleitores do PT que disseram que com Lula estava bem melhor.

Quer que ele volte? "É, seria melhor", foi quase sempre a resposta, embora sempre sem maior entusiasmo ou brilho nos olhos.

O pragmatismo impera, pois não. "Se me der moradia, voto na Dilma. Se não, não."

Mas você votará em quem? "Nos da oposição."

Até nos tucanos? "Ué, se for pra mudar..."

Definitivamente Dilma Rousseff está com a bola murcha na "Copa do Povo".

Pior que ela só Mano Menezes.


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