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Janio de Freitas

As vítimas das surpresas

A conturbação que tomou SP não resultou só da provocação dos motoristas, mas da inércia da polícia

De um sindicato que teve 16 líderes assassinados nas duas últimas décadas, em disputas de poder, e cerca de 20 presos por corrupção na própria entidade, nenhuma ação pode surpreender. Mas as ações comandadas por correntes sindicais dos motoristas de ônibus nos últimos dias, em São Paulo e em outras sete cidades, trouxeram duas surpresas --além do pasmo da população que saiu para seus afazeres e, sem sequer saber por quê, esperou em vão por seus ônibus.

A conturbação que tomou São Paulo não resultou só da provocação de desordem buscada por algumas centenas de motoristas coordenados para efetivá-la. Só a fizeram, porém, porque a sua disposição desordeira combinou-se, em proporção igual mas inversa, com a falta de intervenção policial. Fosse ou não inércia preferida pelo governo paulista.

A suspensão forçada do serviço de ônibus em desobediência a preceitos da lei de greve, entre os quais o primordial aviso aos usuários, já seria suficiente para a intervenção policial contra o desrespeito ao direito da população. A rigor, não houve greve. Houve, sim, a arbitrariedade da decisão e a violência, que fizeram da população a vítima indefesa e injustiçada de tudo.

A omissão do aviso às centenas de milhares de usuários foi, por si só, uma agressão. Apesar disso, os piquetes puderam transitar sem maior problema de uma violência para outra, inutilizando ônibus, agredindo colegas em serviço ou ameaçando até com revólver quem tentou suprir ausências. Tudo sem o esperado risco de prisão ou repressão. Com liberdade, portanto, para ir mais longe, com os ônibus atravessados nas ruas e a paralisação, a partir daí, não só de ônibus: da cidade mesma. Objetivo alcançado, pois. O governo do Estado pareceu não ter nem quem fizesse simples ligações diretas nos ônibus, para desimpedir as ruas com presteza.

Se fossem centenas os presos pela agressão e pelo desprezo à população, por certo não haveria surpresa. Nem haveria, nos dias seguintes, as reprises contra as populações de mais sete cidades.

A meu ver, é impossível ser compreensivo, em qualquer grau, tanto com a brutalidade da greve sem aviso e sem alternativa, como, na mesma medida, com a falta de ação das tantas instâncias do governo paulista. Porque é impossível não pensar nas pessoas que só chegaram em casa já madrugada alta, e nas que nem chegaram e dormiram nas estações do metrô, ou onde desse, e nos doentes e nas crianças em sua espera vã pela mãe, até para a comidinha por ela arranjada. Um sem-número de situações perversas, para satisfação de pessoas que talvez tenham razão nas reivindicações, mas não merecem vê-las atendidas.

Com as situações perversas vividas por milhares incontáveis, a outra surpresa: a quase indiferença que os meios de comunicação lhes dedicaram, como se tudo não passasse de um problema de transporte.

INTERROGAÇÃO

Um magistrado faz uma interpretação pessoal e excêntrica de uma lei e, com base nela, emite sua decisão determinante do destino de alguém, ou de uma causa, de um direito. Não é também uma forma de fazer justiça com as próprias mãos?

Denominações pomposas em geral bastam para estabelecer a distinção aparente e socialmente satisfatória.


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