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Bloco conservador vive de juros altos, diz sociólogo
Indústria e serviços reagiram à redução das taxas com aumentos de preços
Professor afirma que presidente foi punida por coalizão contrária às políticas de redistribuição de renda
Há um "conluio antidistributivo" no Brasil que puniu a presidente Dilma Rousseff quando ela tentou reduzir os juros. Empresários compensaram a queda no rendimento de aplicações com a alta de preços. A análise é do sociólogo Adalberto Moreira Cardoso, 52, diretor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que inclui no conluio parte da classe média rentista e o setor de serviços.
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Folha - Qual a sua visão do processo eleitoral?
Adalberto Cardoso - A campanha será mais radicalizada. Pela primeira vez em 12 anos a oposição está vendo chance de voltar ao poder.
Como estão as forças?
O PSDB, que agia de maneira errática nas últimas três eleições, está com um projeto mais conservador, mais à direita. É uma retomada do projeto de FHC, que, com Armínio Fraga, era de dolarização.
Qual o significado da candidatura de Eduardo Campos?
É uma oposição que saiu do governo. Foi oportunista a aliança com Marina Silva, com quem ele não tem a menor afinidade ideológica. Existe um projeto neoliberal e de aliança com o sistema financeiro do lado da oposição nas duas candidaturas; de outro lado, uma candidatura mais voltada ao neodesenvolvimentismo.
O sr. fala que Dilma é neodesenvolvimentista, mas o crescimento do país é baixo.
Se olhar para a China, é baixo. Se olhar para a América Latina, está crescendo na média. É um erro comparar com a China, um regime autoritário. O governo é de coalizão. E chegou tarde à conclusão de que a economia brasileira está profundamente fragilizada por conta da âncora cambial de FHC. São 20 anos de política que Dilma tentou reverter quando começou a baixar juros. Foi punida pelo mercado.
Punida como?
Quando a taxa de juros chegou num patamar que todos saudaram como uma taxa civilizada, todo mundo começou a aumentar preço. O empresariado deixou de investir. No Brasil os empresários investem com taxa de juros alta porque ela reduz o risco do investimento. Quem financia investimento no Brasil é o BNDES, com juros subsidiados. Com taxa de juros alta, os empresários ganham no mercado financeiro. Quando a taxa de juros cai, a primeira atitude do empresário que começa a perder dinheiro no mercado financeiro é aumentar preço.
Há um pacto pró juro alto?
Existe um conluio antidistributivo no Brasil. Reúne as classes médias, que querem juro alto para garantir sua aposentadoria, sua viagem internacional. A indústria reclama, mas aumenta preços. E o setor de serviços é o maior responsável pelos aumentos. São três agentes poderosos: quando se aumenta a taxa de juros, se transfere recursos do Tesouro para esses agentes.