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A Copa como ela é

ZERO a ZERO

Provocações à parte, festas distintas, de alto padrão e de sindicalistas, para ver o jogo do Brasil têm em comum apoio e críticas aos xingamentos a Dilma na estreia da Copa --atribuídos pelo PT à 'elite'

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

No enclave da "elite branca" de São Paulo, teve refrigerante a R$ 15 e champanhe Moët Chandon a R$ 500 a garrafa durante o jogo do Brasil --mas ninguém mandou a presidente Dilma Rousseff (PT) para aquele lugar.

"Quando cantam o hino à capela, é o povo brasileiro; quando xingam a presidente, é a elite paulista", assim resumiu sua indignação a empresária Fernanda Suplicy, uma das organizadoras do evento Ilha Gueri Gueri e sobrinha do senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

Na semana passada, a presidente Dilma foi xingada no jogo de abertura da Copa, no estádio do Itaquerão, e integrantes do PT afirmaram que o insulto veio da "elite".

"Acho que mandar a presidente tomar... é uma coisa agressiva, que eu não aprovo, mas é a forma pela qual as pessoas se manifestam nos estádios", afirmou Fernanda.

"Há uma tentativa de generalizar, um discurso de separar as classes e isso não é verdade --tem muita gente com grana que vota na Dilma", disse o empresário Sergio Morisson, marido de Fernanda.

Está certo que a maioria das 800 pessoas que estavam no Ilha Gueri Gueri, evento que reuniu público de classe alta no bar Ilha das Flores, no bairro Cidade Jardim, zona oeste de São Paulo, não era do eleitorado petista.

"Se Dilma tivesse ido ao jogo e aparecido no telão, certamente ia ter gente xingando [aqui]", disse uma advogada que não quis se identificar.

Alguns defendiam a "liberdade de expressão" para destratar a presidente.

"O brasileiro simplesmente colocou para fora sua insatisfação com o governo", dizia Carolina Burg, sócia do banco Plural. Segundo ela, só se estivesse "doida" votaria em Dilma nesta eleição.

Mas muitos se ressentiam do rótulo de classe privilegiada e mal educada que ofendeu a presidente.

"Sei que há insatisfação, mas as pessoas deveriam demonstrar isso nas urnas. Mandar a Dilma... foi uma baita falta de educação; o mundo inteiro estava olhando esse desrespeito à presidente", disse Luiz Antonio Busnello, sócio da agência Pepper, uma das organizadoras do evento.

"Não sei se foi elite ou não. A Dilma também foi xingada no show do Rappa do dia 1º [em Ribeirão Preto]", disse Ricardo Salles, secretário particular do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP).

Salles, ex-presidente do Movimento Endireita Brasil, causou polêmica no passado ao criticar a Comissão da Verdade. "A Dilma venceu em todos os estratos sociais, então parte dos descontentes é de eleitores da classe alta que votaram no PT", disse.

Entre os VIPs presentes estavam a ex-candidata a deputada e socialite Ana Paula Junqueira (PMDB-SP), o secretário estadual de Planejamento, Júlio Semeghini, o músico João Suplicy, filho de Eduardo Suplicy, o estilista Walério Araújo e a atriz Luciana Vendramini.

"Quem organizou a Copa, a que só tem acesso quem tem dinheiro, foi o governo; então não dá para culpar a gente", afirmou Ana Paula, assumindo o papel de porta-voz da classe privilegiada.

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RICARDO BUNDUKY
DE SÃO PAULO

"Está tendo Copa, sim! Só não tem copo, porque o Alckmin acabou com a água!", bradou no microfone o presidente nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas, em frente ao telão montado na sede da entidade, no Brás (zona leste de São Paulo), para a transmissão do jogo entre Brasil e México.

Porém, a rivalidade para aquele público, formado por famílias, moradores do bairro e sindicalistas --a maioria com camisetas distribuídas pela CUT-- parecia se restringir ao adversário da seleção.

"As vaias para a Dilma tiveram merecimento, porque ela foi ao estádio fazer política", avalia o engenheiro José Antonio Pereira, 55, acrescentando que a presidente "pagou" pelos últimos 12 anos do governo de seu partido.

Na sequência, apontou para a sua camiseta da seleção --uma réplica comprada por R$ 80--, ressaltando que a oficial custa cerca de R$ 230.

"O Lula deu muito crédito à Dilma, e o governo não foi muito bom", opinou o desenhista Alex Marins, 38, integrante da escola de samba Colorado do Brás, patrocinada pela CUT.

"Mas ainda que não tivessem feito a Copa, esse dinheiro não iria para lugar nenhum", afirmou um amigo dele, Daniel Porfírio, 35.

No intervalo do jogo, integrantes da bateria da agremiação empolgaram os presentes com seus batuques.

O cardápio para quem assistia ao jogo no local era formado por pipoca em saquinhos de papel, copos de refrigerante e algodão doce, distribuídos gratuitamente.

NOVO CONTEXTO

Maiores de idade podiam comprar latas de cerveja por R$ 3,50 em bares dos arredores, ou por R$ 4, do único ambulante no local. O solitário vendedor, Márcio Salles, 49, disse ter visto a Copa de 2002 no Japão, mas que sua "realidade" mudou de lá para cá.

"Pelo lado do torcedor, a Copa no Brasil é do car...", disse. "Deixa para irmos à rua protestar contra a Dilma para amanhã", disse ele, destacando que os protestos são saudáveis para o Brasil, seja qual for o governo.

"Toda a verba pública acaba parando na mão de outra pessoa, isso a gente já sabe."

Além dele, que diz ter vendido quase toda a mercadoria, a catadora de rua Ana Pereira Santos, 63, teve motivos para comemorar --em apenas duas horas no local, ela disse ter coletado dois quilos de latas de alumínio.

Mesmo com as guloseimas gratuitas, teve também quem levou o "lanchinho" de casa, como o microempresário Rodrigo Oliveira, que carregava pacotes de salgadinho e uma garrafa de refrigerante em uma sacola plástica.

"O país tem outras prioridades, principalmente na área da saúde e da segurança pública", afirmou Oliveira ao fim do primeiro tempo, quando caminhava para casa com dois filhos pequenos e a mulher.

Candidato do PT ao governo de São Paulo, o ex-ministro Alexandre Padilha esteve no evento dos sindicalistas no Brás. Ele assistiu ao jogo da seleção brasileira ao lado da mulher, Thássia Alves.


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