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O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Elio Gaspari

De R.Guerreiro@org para Dilma@gov

A senhora não lembra de mim, pois ninguém lembra do Ramiro Guerreiro, prova de que fui um bom chanceler

Excelência,

Houve no Itamaraty um embaixador muito inteligente e engraçado, o Araújo Castro. Celebrizou-se pelas piadas com que feria os colegas e fez uma terrível comigo: "O Guerreiro é a única pessoa capaz de dormir durante o próprio discurso". Quando escrevi minhas memórias intitulei-as "Lembranças de um empregado do Itamaraty". Parece que o livro é muito chato. Eu diria que sou monótono.

Escrevo-lhe para dizer que esse funcionário que está hoje na chefia do ministério, o Luiz Alberto Figueiredo, foi um presente que a vida lhe deu. Em 1979, quando assumi o Ministério das Relações Exteriores, ele acabara de sair do Instituto Rio Branco. Era um terceiro-secretário, e foi cuidar de irrelevâncias como meio ambiente.

Outro dia a Corte Suprema dos Estados Unidos recusou-se a apreciar um recurso da Argentina contra uma sentença de um juiz federal que mandava pagar, ao par, aos atuais detentores de títulos caloteados em 2001 que não concordaram com a renegociação feita anos depois. Equivalem a 8% do papelório. A decisão da primeira instância é insana e poderá provocar uma moratória e travar as negociações em futuras e inevitáveis crises de crédito. Tanto é assim que o governo americano advertiu a corte para os riscos resultantes da decisão. Um pedaço da banca e o FMI também pisaram no freio. Ademais, em 1933 os Estados Unidos calotearam a conversibilidade de sua dívida em ouro. Fizeram isso com um voto do Congresso, ratificado na Corte Suprema por maioria de 5 x 4.

Até agora, o Brasil alinhou-se juridicamente com a Argentina, sem barulho. Seu governo fez isso dando voz ao embaixador nas Nações Unidas. O que me levou a escrever-lhe foi a discrição da sua diplomacia. Política externa sem charanga é tudo o que precisamos. A senhora já ouviu falar que em 1983 o presidente Reagan queria invadir o Suriname, estava com tudo pronto e mandou o diretor da CIA a Brasília para pedir apoio? Dissuadimo-lo, ajudamos a resolver a encrenca e não dissemos uma palavra. Imagine a manchete: "Brasil nega a Reagan apoio para invadir o Suriname". E depois: "Reagan cede ao Brasil e não invade Paramaribo".

A senhora imagine que, em 1982, um general megalomaníaco, apreciador de destilados, decidiu invadir as ilhas Malvinas. Nós não podíamos nos meter naquela aventura, mas também não podíamos negar solidariedade à nação amiga. (O Roberto Campos, embaixador em Londres, achava que a primeira-ministra Margaret Thatcher ia amarelar.) Sabíamos que os generais argentinos seriam postos para correr, pois só eram valentes com estudantes amarrados. Tratava-se de tirar a meia sem descalçar o sapato. Conseguimos, porque trabalhamos sem charanga.

A presidente argentina chama os fundos que compraram papéis da velha dívida de "abutres". Por muitos motivos, estamos com ela, mas não precisamos entrar nesse bate-boca. Brigar com a Argentina, só no futebol, se for inevitável.

A senhora conseguiu fazer o certo, sem pirotecnia. O Araújo Castro, incorrigível, chama os especialistas em lances diplomáticos barulhentos de "papagaios de crises". Ele lista todos os nomes. Eu não os menciono.

Respeitosamente, saúdo-a.

Ramiro Saraiva Guerreiro

MARINA E CAMPOS

Não se pode prever quanto tempo durará a aliança de Marina Silva com Eduardo Campos, mas uma coisa é certa: nada do que ele faz deixa de ser combinado com ela.

RUÍNAS ESPERADAS

Há tempo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, doutor Tulio Maciel, cultiva o hábito de anunciar que maus números da economia eram "esperados". O deficit em conta corrente chegou a US$ 40 bilhões, coisa jamais vista, mas "era esperado". Em 2012, "eram esperados" os números que indicavam a deterioração das contas públicas.

Messi driblou o zagueiro. Era esperado. Os Aliados desembarcaram na Normandia. Era esperado. Os russos entraram em Berlim. Era esperado. É verdade que é preferível antever o problema, mas, para um cacique do Banco Central, isso é pouco. Como ensina o sábio Marco Maciel, "as consequências vêm depois", e o doutor Tulio está numa das usinas geradoras de consequências.

CONTA DOS MINUTOS

A doutora Dilma vendeu até o faqueiro para juntar cerca de 12 minutos no horário eleitoral. De fato, é uma fortuna, pois Aécio terá uns quatro, e Eduardo Campos, dois.

Sempre é bom lembrar que, num segundo turno, os dois candidatos têm tempos iguais. Como a doutora não gosta de debates e nos seus improvisos às vezes não termina as frases, ali o jogo é outro.

LULA E DILMA

Pode ser que esteja no DNA de Nosso Guia, pode ser esperteza mas, seja lá o que for, Lula está exagerando nas críticas que faz ao governo, sobretudo em conversas com empresários. Como essas falas acabam magnificadas, seria melhor se ele unificasse o discurso num pronunciamento público.

AS ONDAS MAGNÉTICAS DO PLANALTO

Tem gente que acredita: no gabinete do presidente há uma fonte de ondas eletromagnéticas que alteram o funcionamento do cérebro dos seus ocupantes. Essa energia infla-lhe os egos, levando-os a dizer coisas em que só os áulicos da Casa fingem que acreditam.

Ao empossar o novo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, no lugar de César Borges, a doutora Dilma disse o seguinte:

"Estamos fazendo uma pequena reorganização no time que toca a infraestrutura logística do governo, estou realocando as melhores pessoas em funções diferentes, ainda que semelhantes na essência e nos princípios."

Será que a doutora pensa que alguém acredita nisso, inclusive nos "princípios"? Borges foi defenestrado por exigência do PR, que nem assim saciou-se.

Outro dia ela incluiu os recursos de custeio da máquina no que seria o investimento de seu governo na educação. Já aconteceu um caso em que a doutora disse que tinha como meta entregar 8.685 creches. Quando o número foi destrinchado, ofendeu-se: "Minha meta é 6.000 creches. Quem foi que aumentou para 8.000?". Ela.

Lula chegou a dizer que "quando Napoleão foi à China pela primeira vez" previu seu grande futuro e que Oswaldo Cruz "criou a vacina contra a febre amarela". Não estava querendo enganar ninguém. Eram bobagens mesmo.

Presidentes temperamentais dizem o que querem, e os áulicos aprendem a fingir que concordam. O exemplo clássico dessa espécie foi o general João Figueiredo. Chegou a alimentar a construção de uma prorrogação do seu mandato de seis para oito anos. Tivera um enfarte, pusera duas safenas e uma mamária, padecia de dores na coluna e adquirira horror ao batente, mas no palácio ninguém o chamava para a realidade. Resultado: elegeu Tancredo, o avô de Aécio Neves.


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