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Caixa-preta não gravou conversa na cabine
Aeronáutica vai apurar por que aparelho falhou
A caixa-preta do Cessna Citation não registrou a conversa dos dois pilotos no voo que caiu em Santos e matou o presidenciável Eduardo Campos, informou a Aeronáutica nesta sexta-feira (15).
Campos e outras seis pessoas --quatro assessores dele e os dois pilotos-- morreram num acidente aéreo na última quarta-feira (13).
Responsável pela investigação do acidente, a Aeronáutica disse não saber por que não houve gravação do último voo. A fabricante da aeronave, a americana Cessna, será consultada.
A conversa permitiria saber o que levou os pilotos a tomar decisões nos momentos antes da tragédia.
Segundo o órgão, a memória contida na caixa-preta registrou outras conversas na cabine, anteriores à do voo que caiu, entre Santos Dumont (Rio) e a Base Aérea de Santos, no Guarujá.
A Aeronáutica irá confrontar os últimos voos do jato para saber a data da última gravação na cabine de comando. Assim, será possível saber há quantos dias ou meses o gravador deixou de funcionar.
NÃO É USUAL
Por lei, uma aeronave não pode decolar com o gravador de dados de voz inoperante, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Antes de cada voo, o comandante é obrigado a checar se o equipamento funciona, conforme o manual de operação do fabricante. Há dois botões na cabine de comando do Citation para isso.
É possível que uma falha tenha feito o gravador do Citation parar de registrar as conversas na cabine, questão que a Aeronáutica irá verificar durante a apuração.
Embora não seja usual, um piloto consegue desligar o equipamento; para tal, é preciso retirar um disjuntor na cabine, segundo três ex-investigadores de acidentes aéreos e um piloto de Citation. Isso não apaga as conversas anteriores --interrompe a gravação dali em diante.
INVESTIGAÇÃO
Sem o gravador de voz, perde-se um importante elemento para ajudar os investigadores a saber o que levou o jato que levava Campos a cair.
Na investigação do acidente em que um Airbus da TAM atravessou a pista de Congonhas e explodiu, em 2007, o registro das conversas na cabine permitiu à Aeronáutica descobrir que o comandante demonstrava preocupação e ansiedade quanto ao fato de a pista do aeroporto estar molhada pouco antes do pouso.
A investigação concluiu que o avião não parou porque acelerou em vez de frear.
No caso do Citation, os investigadores terão que se fiar no que acharam no local dos destroços para reconstituir o acidente. Os dois motores foram recuperados, mas a dificuldade é que o avião se fragmentou em pedaços diante da força do impacto no solo.
Outra questão atrapalha a descoberta da causa do acidente: o jato não tinha gravador de dados de voo, que monitora o comportamento dos equipamentos do avião.
A Aeronáutica disse que os dados do gravador de voz não são "imprescindíveis para a identificação dos possíveis fatores contribuintes".