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Painel do Eleitor

MARCELO COELHO - coelhofsp@uol.com.br

'Com Dilma, continua a bandalheira'

Misturar política e religião é muito perigoso, diz Jucilene Pedro, 21, moradora de favela em São Bernardo

Dizem os moradores mais velhos que a favela do Limpão, em São Bernardo do Campo (SP), tem esse nome devido a um justiceiro que morava por ali, há coisa de 30 anos.

Esquerdinha, como era chamado, usava aqueles ermos para "fazer a limpa", jogando os cadáveres por aqueles morros e barrancos.

Quem conta a história é Jucilene Pedro, 21, que mora com a mãe, de 67 anos, numa casa estreita, encarapitada em três andares, numa das muitas vielas asfaltadas do lugar.

A poucos passos de sua casa, as ruas ostentam um comércio bastante ativo --cabeleireiro, papelaria, mercadinho--, que se alterna com cartazes mais precários.

"Vendo sabão caseiro"; "Pensão masculina"; "Colorau caseiro"; "Bar Esportivo": as placas feitas à mão se aventuram timidamente entre a propaganda eleitoral --majoritariamente petista, na cidade que foi o berço político de Lula.

Procurando emprego há meses, Jucilene não pode mais pagar a faculdade em que se matriculou em 2012. O curso de logística, em todo caso, não a interessa mais. Pareceu-lhe útil quando ela trabalhava numa fábrica de móveis, empacotando os kits para montagem em casa.

Ela já tinha abandonado, depois de dois semestres, o curso de secretariado executivo bilíngue; foi também atingida pela violenta redução de pessoal numa fábrica de materiais de construção de São Bernardo do Campo.

Ela recorda o fato com o mesmo sorriso leve que acompanha sua avaliação do prefeito de São Bernardo, o petista Luiz Marinho. "Está gastando milhões para construir o Museu do Lula." Ela se refere ao Museu do Trabalho e do Trabalhador, inicialmente orçado em R$ 18 milhões.

Marinho gosta de "arrumar praças", continua Jucilene, embora aponte que a prefeitura tem construído escolas, oferecendo uniforme para as crianças. Elogia, com restrições (as filas continuam grandes), a construção de novas UPAs (unidades de pronto atendimento) e as reformas de postos de saúde (UBSs) na cidade.

Não, ela não vota no PT. Achou brandas as penas aplicadas no mensalão; enquanto os petistas estiverem no poder, será "a mesma bandalheira". Quando Lula entrou "até que deu uma melhorada", diz Jucilene, comparando-o com Fernando Henrique ("uma droga de presidente"). "Mas depois tudo estagnou."

Acompanhando política pela internet (Facebook, sites como UOL e G1), ela diz que não tem paciência para ver debates e propaganda eleitoral na TV: "Fico muito indignada".

Ela parece, entretanto, calmíssima enquanto divide suas críticas entre Dilma Rousseff e Aécio Neves (PSDB). A família da mãe é de Minas Gerais; Jucilene acompanhou a doença e o falecimento de sua tia mais querida, em Teófilo Otoni. O tratamento de câncer tinha de ser feito em Governador Valadares (a 137 km de distância).

"Não vi nada de diferente no governo de Aécio", conclui. Diz estar cansada da "picuinha" entre PT e PSDB. Esperando mudanças, vota em Marina Silva. Para governador, Skaf. Sem candidato a deputado estadual e a senador, pensa no nome do candidato derrotado à prefeitura Alex Manente (PPS) para deputado federal.

Acreditando em Deus, mas sem nenhuma religião em especial, Jucilene viu com antipatia a atuação de Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos da Câmara. É a favor do casamento homoafetivo e não se importa com o fato de Marina ser evangélica.

A candidata do PSB "não faz como esses candidatos que se apresentam como Pastor Fulano de Tal". Misturar "duas coisas polêmicas, como política e religião", é muito perigoso, diz Jucilene; pode abrir caminho até "para uma ditadura religiosa".

Jucilene estudou numa escola técnica, mas teve de mudar para o colégio estadual por pressão da mãe, que não a queria repetindo de ano. De Marina, espera mais investimentos em educação. "Deixam a escola ruim, com péssimas aulas de sociologia por exemplo, para manter a população sem espírito crítico."

A entrevista termina. Jucilene tem de sair, ainda à procura de emprego. Recentemente, apareceram propostas; sua expectativa é ganhar algo em torno de R$ 900.


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