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Relator adia pela segunda vez leitura do relatório da CPI
Sem consenso sobre o documento, deputado Odair Cunha (PT-SP) deixou a exposição para próxima quarta
Maior polêmica é o pedido de indiciamento de jornalista da 'Veja'; ponto sobre Gurgel também gera debate
Sem consenso sobre o teor do relatório da CPI do Cachoeira, o deputado Odair Cunha (PT-MG) adiou pela segunda vez a leitura do documento, que ficou para quarta-feira.
Cunha justificou a atitude dizendo que vai "dialogar com os pares" na tentativa de construir um texto que agrade a maioria e seja aprovado.
A maior polêmica é o pedido de indiciamento do jornalista Policarpo Júnior, redator-chefe da revista "Veja" e diretor da sucursal da publicação em Brasília.
Até ontem, o PT estava irredutível em negociar esse ponto, considerando até mesmo correr o risco de ter o relatório rejeitado. O partido fará uma reunião na próxima semana para avaliar as consequências do relatório da CPI.
A oposição e as siglas da base ameaçam votar contra o texto caso o indiciamento do jornalista, que não foi convocado para depor e nem investigado pelos integrantes da CPI, seja mantido. Se o relatório for rejeitado, a CPI encerrará sem conclusão e todo material levantado será anulado.
As investigações da Polícia Federal sobre o esquema Cachoeira flagraram conversas do jornalista da "Veja" com Carlos Cachoeira. Em nota, a revista cita que os delegados informaram à CPI que a relação dos dois era de fonte com jornalista, o que não foi relatado no texto de Cunha.
Outros quatro jornalistas de imprensa regional tiveram indiciamento pedido e ainda há outros citados no texto de Cunha. Ninguém foi ouvido ou investigado pela CPI.
A Folha apurou que a decisão de indiciar Júnior foi tomada na terça-feira passada, após reunião de Cunha com os líderes do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), na Câmara, Jilmar Tatto (SP) e o deputado Cândido Vaccarezza (SP).
No encontro, que se estendeu até as 23h, o relator defendeu que Júnior fosse apenas citado, embora concordasse com o indiciamento, já que não havia sido investigado.
Mas, após uma reunião tensa, foi convencido de que essa era uma determinação do PT e que Júnior que se defendesse na Justiça. "Foi o dia mais difícil da minha vida", afirmou o relator a interlocutores após acatar a "missão partidária".
Outro ponto polêmico é o pedido para que o Conselho Nacional do Ministério Público investigue o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. A oposição e parte da base são contrárias à medida.
Alguns integrantes da CPI também não concordam com o indiciamento do empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta, que abasteceu os cofres do esquema.
O relator, no entanto, disse que só vai mudar esse ponto se houver um pedido público na reunião da CPI e a maioria apoiar.
A oposição também está rachada na CPI por causa do pedido de responsabilização do governador Marconi Perillo (PSDB-GO), acusado pelo relator de receber dinheiro do esquema Cachoeira.
Os tucanos querem que o relatório seja derrubado para livrar o governador, por isso defendem a votação do texto sem nenhuma alteração.
DEM, PSOL, PDT e PPS são favoráveis à responsabilização de Perillo. Parlamentares desses partidos e o senador Pedro Simon (PMDB-RS) ingressaram ontem na Procuradoria-Geral da República com pedido para aprofundar investigações de políticos, entre eles os governadores Agnelo Queiroz (PT-DF), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Siqueira Campos (PSDB-TO). Eles negam envolvimento com Cachoeira.