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Corpo de Niemeyer é enterrado no Rio
Após velório aberto ao público, sepultamento ocorreu ontem à tarde em cerimônia restrita a família e amigos
Despedida do arquiteto foi ao som de "Cidade Maravilhosa", tocada pela Banda de Ipanema, da qual era patrono
Em uma cerimônia discreta, ao som de "Cidade Maravilhosa" e de gritos de "companheiro", proferidos por antigos colegas comunistas, o corpo do arquiteto Oscar Niemeyer, morto na quarta-feira aos 104, foi enterrado no fim da tarde de ontem no cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul do Rio.
Aberto ao público entre 8h30 e 15h, o velório no Palácio da Cidade, sede do governo municipal, teve presença discreta de visitantes.
O corredor formado por grades móveis, para organizar a entrada das pessoas, foi quase desnecessário. Em nenhum momento houve fila.
No espaço reservado a convidados, a família de Niemeyer recebeu os cumprimentos de Sérgio Cabral e Eduardo Paes, governador e prefeito do Rio, Antônio Anastasia, governador de Minas Gerais, e Márcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte.
Ateu, Niemeyer foi homenageado antes do enterro por um ato ecumênico celebrado pelos padres Osmar Raposo e Jorjão, pelo rabino Newton Bonder e pelo pastor luterano Mozart Noronha.
O momento de maior emoção foi quando o pastor pediu que os presentes dessem as mãos e cantassem a música "Suíte de Pescador", do baiano Dorival Caymmi.
O urbanista Jaime Lerner lamentou a morte do "maior brasileiro de todos os tempos". O arquiteto Paulo Casé disse que, "se não houvesse a morte, iríamos imaginá-lo como um gênio imortal."
Dois filhos do líder comunista Luís Carlos Prestes foram ao velório e lembraram o apoio do arquiteto ao pai após prisões e o exílio. Ele emprestou e comprou casas para o amigo.
As homenagens também foram registradas em mais de 30 coroas de flores enviadas ao palácio. Uma delas, assinada por Fidel Castro, dizia: "Ao incondicional amigo de Cuba, Oscar Niemeyer".
Entre os anônimos que enfrentaram o forte calor, notava-se um senhor de cabelos brancos, visivelmente emocionado. O engenheiro italiano Giorgio Veneziani, 86, desembarcou no Brasil em 1948 e, na década seguinte, conheceu Niemeyer.
"Montei uma indústria de mármores e granitos e acabei sendo fornecedor de mármores usados nos palácios de Brasília", disse Veneziani, que morou entre 1957 e 1962 na área onde estava sendo erguida a capital federal.
Outro fã de Niemeyer chamou a atenção. Cego, o estudante Everton Sampaio, 27, descreveu as obras do arquiteto como "emocionantes". "Posso sentir algo diferente só de entrar, tocar as paredes, as colunas. É arte", disse ele, cuja obra predileta é a Catedral de Brasília. "O sol parece estar dentro dela."