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Disputa por lotes leva tensão a maior assentamento do RJ

Duas pessoas foram assassinadas em um período de duas semanas no Zumbi dos Palmares, em Campos dos Goytacazes

Em pelo menos um dos casos, a Polícia Civil concluiu haver relação com a disputa de lotes da reforma agrária

ITALO NOGUEIRA DO RIO

A disputa pelo controle de lotes de assentamentos futuros ou já existentes tem produzido um clima de tensão e constantes ameaças no maior assentamento do Rio de Janeiro, relatam movimentos sociais e agricultores.

É no Zumbi dos Palmares, em Campos dos Goytacazes (RJ), no norte fluminense, que viviam duas pessoas assassinadas em menos de duas semanas.

Em ao menos um dos casos, a Polícia Civil concluiu que o crime tem relação com a disputa por lotes da reforma agrária.

De acordo com as investigações, José Renato Gomes de Abreu, 45, suspeito de ser o mandante da morte de Cícero Guedes da Silva, 49, queria incluir famílias no acampamento do MST (Movimento dos Trabalhados Sem Terra) na usina Cambahyba.

Há a expectativa de que a fazenda seja desapropriada em breve. A intenção seria indicar beneficiários de lotes.

Cícero, assentado no Zumbi e um dos líderes do acampamento Cambahyba, tentava impedir a inclusão. O MST afirma que José Renato não integrava o movimento. O suspeito negou à polícia as acusações.

Além da disputa sobre os lotes futuros, produtores rurais afirmam que sofrem ameaças em áreas já desapropriadas para a reforma agrária.

Assentados do Zumbi dos Palmares relatam, sob anonimato, sofrer pressão para vender seus lotes.

Dizem que pessoas armadas insistem em fazer ofertas pelos terrenos -a venda não é permitida em assentamentos do Incra.

Os interessados lembrariam, em tom de ameaça, a insegurança que é viver numa área remota, sem policiamento constante.

Muitos assentados aceitam a oferta, outros abandonam seus lotes, relatam militantes da CPT (Comissão Pastoral da Terra). Força tarefa do Incra concluída ano passado apontou que, dos 507 lotes do assentamento, 17% estavam nas mãos de outros titulares. Os terrenos podem ser retomados e entregues a outras famílias de sem-terra.

A região se tornou alvo da especulação imobiliária em razão da proximidade ao futuro porto do Açu, empreendimento do grupo EBX, de Eike Batista. A duplicação da BR-101 prevê, num dos seus traçados, cortar a área do assentamento, o que torna a região de interesse para investimento logístico.

A Polícia Federal investiga o comércio de lotes. Mas o principal entrave é a falta de depoimentos que comprovem as ameaças. Os assentados temem falar abertamente sobre os casos.

O assassinato de Regina dos Santos Pinho, 56, provocou mais medo no assentamento. A principal hipótese da polícia, porém, aponta para crime de motivação sexual. Mas não está descartada a hipótese de vínculo com o conflito rural.

Segundo relatos, ela foi uma das que recebeu proposta para vender seu lote.

As circunstâncias da morte assustam produtores rurais. Regina foi encontrada dentro de casa em avançado estado de putrefação.

Acredita-se que tenha morrido três dias antes de ser encontrada. Viúva, morava sozinha num lote afastado.

Vulnerabilidade comum entre as centenas de famílias do assentamento.


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