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Família recebe novo atestado de Herzog
Documento corrige versão oficial e diz que jornalista morreu após 'lesões e maus-tratos sofridos' no DOI-Codi
Ditadura militar falava em suicídio; 'família foi humilhada com documento mentiroso', afirma filho de Vlado
A família de Vladimir Herzog recebeu ontem uma versão corrigida do atestado de óbito do jornalista, morto em 1975, na ditadura militar.
A certidão, revisada após determinação da Justiça, diz agora que a morte decorreu de "lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do 2º Exército (DOI-Codi)".
Ela substituiu formalmente a versão de que Herzog foi vítima de "asfixia mecânica por enforcamento" -divulgada para indicar suicídio.
"É um resgate das histórias de pessoas que construíram um país mais democrático. A família foi humilhada com o documento mentiroso", disse Ivo, filho do jornalista.
Ele, a viúva de Herzog, Clarice, e o neto do jornalista, Lucas, receberam o documento das mãos de Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional da Verdade.
A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) afirmou que a entrega do novo atestado é importante "para que venham muitos outros".
"Se até pouco tempo [atrás] a família de Vlado [nome pelo qual Herzog era conhecido] tinha um atestado mentiroso, isso mostra que temos tantos outros atestados por aí que precisam ser corrigidos."
A família do jornalista diz que a entrega do documento é mais um passo para a descoberta da verdade e afirma querer o reconhecimento e o julgamento dos culpados.
Herzog foi espontaneamente ao DOI-Codi após ter sido procurado por agentes da repressão em sua casa e na TV Cultura, onde trabalhava como diretor de jornalismo. Ele foi torturado e espancado até a morte.
A alteração no atestado de óbito foi um pedido da família e da Comissão Nacional da Verdade. Em setembro de 2012, o juiz Márcio Bonilha Filho, da 2ª Vara de Registros Públicos de São Paulo, determinou a correção.
É o segundo caso de retificação de atestado de morte ocorrida na ditadura. Em 2012, a Justiça determinou a mudança na certidão de óbito de João Batista Drumond.
No atestado, em que constava como causa da morte "traumatismo craniano na avenida 9 de Julho" foi alterado para "em decorrência de torturas físicas nas dependências do DOI-Codi no 2º Exército, em São Paulo".
Drumond era um militante comunista e morreu em 1976.
ANISTIA DE ALEXANDRE
A entrega do novo documento à família de Herzog ocorreu no Instituto de Geociências da USP. O estudante de geologia da USP Alexandre Vannucchi Leme, morto em 1973, aos 22 anos, foi homenageado no mesmo ato.
A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça declarou Vannucchi Leme um anistiado político. Trata-se de um reconhecimento de que ele foi perseguido e morto na ditadura. Também foi feito um pedido formal de desculpas pelo Estado. O regime militar informou que ele morreu atropelado. Mas, segundo depoimentos, ele morreu após ser torturado. (BRUNA BORGES)