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Ribeirão

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Após 11 anos, troca de bebês ainda causa dor em famílias

Meninas afirmam ter dúvidas sobre com qual dos casais querem morar

Garotas cresceram juntas após terem sido destrocadas há dez anos por ordem da Justiça de São Joaquim

GABRIELA YAMADA DE RIBEIRÃO PRETO

Beatriz tinha o cabelo enrolado e não se parecia em nada com os pais, que têm os cabelos lisos e a pele mais clara. Descobriu-se, dez meses depois, que ela havia sido trocada na maternidade.

Passados 11 anos da troca dos bebês, a descoberta e a volta deles para os pais biológicos é uma ferida ainda não cicatrizada para duas famílias da região. "A dor é grande. Sinto falta da Beatriz. Não gosto de levá-la embora para a casa dela e ela chora também", disse a professora Milena Filetti Mustafe, 46.

A troca foi descoberta dez meses após os nascimentos, que ocorreram em 7 de fevereiro de 2003, na Santa Casa de São Joaquim da Barra.

Milena já havia marcado a cesariana para aquela manhã. Mas, na madrugada, o hospital recebeu a servente Sandra Helena Luiz, 40, em trabalho de parto. Beatriz e Maria Fernanda nasceram não só no mesmo dia, mas também no mesmo horário.

Quando foram levadas para as mães, nos quartos, já haviam sido trocadas. "Houve um erro e não se sabe a forma como se deu. Assumimos a culpa", disse o advogado da Santa Casa, Alexandre Nader.

As mães jamais desconfiaram. A dúvida surgiu na família: a sogra de Milena dizia que Beatriz era diferente já no primeiro mês de vida.

"Começaram a dizer que eu traí meu marido."

Para acabar com a dúvida, fizeram exame de DNA. O resultado abalou a família.

A irmã de Milena anunciou o caso em uma rádio e, assim, Sandra chegou com Maria Fernanda nos braços, a verdadeira filha de Milena.

"Eu não queria conhecer [a Beatriz]. Só me aproximei porque a Justiça mandou", afirmou Sandra.

Àquela altura, Maria Fernanda já falava "mamãe" e dava seus primeiros passos.

A Justiça determinou que fossem destrocadas em 13 de fevereiro de 2004, quando tinham um ano, e proibiu que houvesse contato. A ordem foi descumprida e as crianças cresceram juntas.

"No início, eu olhava para a Maria Fernanda no berço e perguntava: Quem é essa menina? Cadê a minha filha?' Foi difícil", afirmou Milena.

O mesmo aconteceu com Sandra, que disse ter enfrentado um pesadelo para se adaptar. "Até hoje sinto falta da Maria Fernanda."

Beatriz e Maria Fernanda dizem se sentir irmãs. Até 2013 estudaram na mesma escola, mas agora terão de se adaptar, já que a família de Maria Fernanda se mudou para Franca. A de Beatriz segue em São Joaquim.

Às vezes chamam de "mãe" as mães não biológicas. E confessam ter dúvida sobre com quem querem morar.


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