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Ribeirão

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Madre Maurina sofreu assédio, diz irmão

Em depoimento a comissão da OAB, frei disse que torturadores ficaram nus em frente a religiosa na prisão militar

Caso relatado ocorreu durante a ditadura militar; comissão vai ouvir mais testemunhas e vítimas do período

DE RIBEIRÃO PRETO

Madre Maurina Borges da Silveira, presa pela ditadura militar (1964-85) acusada de participar de um grupo guerrilheiro de Ribeirão Preto, sofreu assédio sexual e seus torturadores ficaram nus durante seu depoimento.

Os detalhes do episódio foram contados por seu irmão, o frei dominicano Manoel Borges da Silveira, 83, à Comissão da Verdade da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Ribeirão na tarde desta sexta-feira (20).

Ela foi presa em 1969, depois de ter cedido o porão do orfanato Lar Santana, que dirigia, a estudantes pertencentes às Faln (Forças Armadas de Libertação Nacional).

"Ela confidenciou a uma cunhada que os torturadores ficaram nus e rasgaram a sua blusa", disse o frei.

Segundo Silveira, um delegado à época, conhecido pelas torturas, também ficou sem roupa e passou a acariciar as pernas da madre.

"Ele passava a mão nas pernas dela e dizia que estava há muito tempo longe da mulher dele", afirmou.

Não houve estupro, segundo o frei. Ele afirmou que foram ligados fios condutores de energia aos seios da madre, que foi submetida a sessões de tortura com choque.

O assédio aconteceu em uma das salas da Força Pública, onde hoje funciona a Delegacia Seccional.

"Ela disse que olhava os homens nus e tinha dó de cada um deles", disse o frei.

Segundo ele, o delegado exigia que a madre dissesse que tinha ligação com as Faln e que mantinha um relacionamento amoroso com Mario Lorenzato, 74, que na época era do grupo guerrilheiro.

Lorenzato, que assistiu o depoimento do frei, afirmou à Folha que a acusação de Fleury foi "absurda".

A madre foi exilada no México, onde viveu por 14 anos. Ela insistiu para que fosse julgada no Brasil, mas seus pedidos foram negados.

Na volta, após a anistia, afirmou na Justiça Militar que havia perdoado a todos os seus torturadores, segundo carta escrita por ela e lida pelo frei na comissão.

"É importante expor a verdade e esclarecer o passado, em memória dela", afirmou o irmão da madre, que prepara um livro sobre a irmã.

A obra deverá ser lançada até o final do ano, sob supervisão do jornalista Saulo Gomes, que fez entrevistas com ex-presos políticos.


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