Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Saúde + Ciência

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Número de idosos que moram sós triplica

Entre 1992 e 2002, parcela dos que têm mais de 60 anos e vivem sozinhos no país cresceu de 1,1 milhão para 3,7 milhões

Fragmentação das famílias e aumento da longevidade ajudam a explicar tendência, segundo especialistas

CLÁUDIA COLLUCCI DE SÃO PAULO

Aos 89 anos, o militar aposentado Augusto Sonesso esbanja saúde. Vai ao clube diariamente, faz musculação, nada e joga bilhar com os amigos. Viúvo há três anos, tem filho, nora e netos, mas prefere morar sozinho.

Ele faz parte de um contingente que cresce no país: o de idosos vivendo sós.

Entre 1992 e 2012, o número deles triplicou, passando de 1,1 milhão para 3,7 milhões --um aumento de 215%, segundo as PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE.

No mesmo período, a população de idosos acima de 60 anos passou de 11,4 milhões para 24,8 milhões, um crescimento de 117%.

Há várias hipóteses para explicar a tendência, como o fato de as mulheres estarem ainda mais longevas. Entre os idosos hoje morando sozinhos, 65% são mulheres.

"Em geral, elas já criaram os filhos, estão viúvas ou separadas e querem manter autonomia", diz Alexandre Kalache, que já dirigiu o programa de envelhecimento da Organização Mundial da Saúde e preside o Centro Internacional de Longevidade.

Mas mesmo entre os homens, há sinais de uma maior independência. O percentual dos que vivem sozinhos passou de 31% para 35% nas últimas duas décadas.

Segundo Kalache, outra explicação é o fato de que hoje existe uma maior dispersão e fragmentação das famílias, com muitos filhos não morando na cidade dos pais.

Essas mudanças, associadas ao aumento da longevidade, têm levado as pessoas a ver com mais naturalidade a decisão de um idoso morar sozinho, de acordo com Marília Berzins, doutora em saúde pública pela USP e presidente do Observatório da Longevidade.

"O que antes era tido como sinal de abandono, agora é visto como autonomia."

SUPORTE

De olho nesse filão, empresas estão investindo em produtos que dão suporte aos idosos que vivem sós.

É a chamada teleassistência, por meio da qual centrais que funcionam 24 horas monitoram o idoso dentro e fora de casa.

Augusto Sonesso é um dos usuários dessas tecnologias. Tem uma pulseira com identificação e alarme e já precisou de ajuda duas vezes, quando sofreu queda de pressão e desmaiou. "Isso me deixa mais mais seguro de viver sozinho", diz ele.

O filho, Eduardo, e a nora, Maria Teresa, moram na Granja Viana, a 20 km do apartamento onde Sonesso vive, no Paraíso (zona sul).

"Em uma emergência, não dá tempo de chegar. Ficamos mais tranquilos sabendo que, se acontecer algo, a empresa nos avisa imediatamente e providencia socorro rápido", afirma Maria Teresa.

SERVIÇOS PÚBLICOS

Mas, segundo os especialistas, há muitos idosos vivendo sozinhos, sem amparo da família e sem condições de bancar assistência privada.

Alguns municípios começam a se organizar para oferecer serviços públicos de teleassistência. A cidade de Joinville (SC), por exemplo, já implantou um e Santos desenvolve um projeto piloto.

"Com o envelhecimento da população, esse tipo de assistência será fundamental. O poder público precisa se organizar para isso, como já fizeram países como Portugal e Inglaterra", diz Kalache.

Em São Paulo, há um projeto da prefeitura de oferecer teleassistência a 10 mil residências onde moraram idosos sozinhos ou que ficam muito tempo a sós porque os filhos trabalham fora.

A proposta, segundo Marília Berzins, autora do projeto, é priorizar idosos acima de 70 anos, com pelo menos três doenças crônicas, como diabetes e cardiopatias.

Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal da Saúde, há um processo de abertura de licitação em andamento para a contratação do serviço em 2014.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página