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Cirurgiã melhorou tratamento de câncer retal
Médica Angelita Habr-Gama venceu o prêmio na categoria Personalidade em Destaque
Primeira mulher titular em cirurgia da USP, a médica Angelita Habr-Gama desenvolveu um método para tratar o câncer de reto que combina radioterapia e quimioterapia e evita a amputação do órgão.
O trabalho foi iniciado em 1991 e motivou pesquisas de diferentes grupos de estudo pelo mundo. Em junho, uma delas foi premiada como o melhor estudo de 2013 pela Sociedade Americana de Cirurgiões de Colo e Reto.
O reto é a parte final do intestino grosso. Tumores nessa região costumam ser agressivos e, tradicionalmente, preconiza-se retirar parte do órgão, o que pode fazer com que o paciente tenha de usar uma bolsa de colostomia (que retém fezes) presa ao corpo.
Nos últimos 23 anos, Angelita acompanhou mais de 600 pacientes. Seu último trabalho mostrou que radio e quimioterapia combinadas eliminam 50% dos tumores, sem necessidade de cirurgia.
"Não operar faz toda a diferença na qualidade de vida. A cirurgia pode levar à incontinência fecal e a disfunções sexuais", afirma a cirurgiã.
No entanto, diz Angelita, o método ainda enfrenta resistência por parte da comunidade científica, principalmente entre os oncologistas, que acham mais seguro fazer o tratamento tradicional.
Por isso, ser laureada na categoria Personalidade em Destaque do Prêmio Octavio Frias de Oliveira tem um "sabor especial", afirma ela.
"Eu ri de uma orelha a outra. Os oncologistas resistem a protocolos não cirúrgicos, talvez porque veem menos os problemas que podem vir em consequência da cirurgia."
Ela diz que o tratamento proposto requer acompanhamento rigoroso para prevenir a recidiva do tumor. Se houver, é preciso operar.
Para Paulo Hoff, diretor do Icesp, é possível que a amputação do reto não seja mais necessária para curar o câncer no futuro. "Quando esse dia chegar, alguém abrirá um livro de história para saber como foi o processo e verá o nome de Angelita", diz.
Ganhadora de 63 prêmios científicos, autora de 174 artigos científicos em revistas indexadas e editora de 15 livros científicos, Angelita é cirurgiã da Beneficência Portuguesa de São Paulo e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Outra área de atuação da médica é na prevenção. Há dez anos, ela fundou uma associação voltada a ações preventivas do câncer de reto.
Um dos esforços de Angelita é tornar os exames de detecção do câncer de intestino (sangue oculto nas fezes e colonoscopia) mais comuns na rotina médica.