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Análise
Questão 'o ovo ou a galinha' não se aplica a 'a língua e o dicionário'
PASQUALE CIPRO NETO COLUNISTA DA FOLHAA língua e o dicionário nem de longe podem protagonizar a velha questão que envolve o ovo e a galinha: quem veio primeiro? Não é o dicionário que determina o que pode/deve ou não pode/deve ser usado. Um bom dicionário é apenas um cartório da língua.
Mas a velocidade do registro das palavras nem sempre é a que se espera, sobretudo nas versões impressas.
Fiz um teste com a última versão on-line do "Houaiss". Procurei diversas palavras "novas". Achei uma boa parte delas, quase todas mantidas em sua grafia original (inglesa). Se alguém procurar ali algum dos 42 termos ligados à linguagem da internet recentemente adicionados ao dicionário "Oxford", provavelmente não achará nenhum. Se cá chegarem e se propagarem entre nós, será preciso registrá-los.
Pois chegamos a um ponto interessante: como proceder diante de um termo "invasor"? Rejeita-se? Aportuguesa-se? Ou procura-se a palavra portuguesa "legítima" que traduza a novidade?
Rarará! Isso tudo é como querer determinar para onde deve ir o vento. Toda tentativa de disciplinar a entrada de termos estrangeiros redunda em rotundo fracasso.
Um caso interessante e um tanto esquizofrênico é "HD", sigla de... De "alta definição", mesmo. No Brasil, ninguém diz transmissão em "AD", assim como ninguém diz transmissão em "high definition". Pegou a sigla, mas não a expressão inglesa "por extenso".
Bem, a única coisa a combater é a babaquice, o deslumbramento. Querer impor na marra um termo estrangeiro que não vinga e que tem equivalente em português, conhecido e usado, é ridículo.
Mas o que vale nos meios "internéticos" nem sempre vale em outros territórios. Ainda não se faz ciência com a linguagem de guetos ou tribos, fechada, cheia de abreviações e junções de termos. Devagar com o andor. É isso.