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Opinião

À procura de uma 'tinderela' ou de um pedaço de carne?

TATI BERNARDI COLUNISTA DA FOLHA

Meu amigo é branquelo e vive meio desempregado. Mas no Tinder escreveu "carioca cineasta" e colocou uma foto esquiando. Os óculos escondem 60% do rosto, deixando uma onda de mistério nas pretendentes, apelidadas, carinhosamente, de "tinderelas". "Esquiar é coisa de rico e esse tipo de mulher adora isso." Que tipo de mulher é esse? Ele: "Qualquer uma que tá a fim da coisa".

Na semana passada ele transou com duas. Essas duas foram escolhidas após um rigoroso teste "ao vivo" com sete jovens sonhadoras. Essas sete, por sua vez, foram as que sobraram de um papo virtual com 12 donzelas, resgatadas de uma pré-seleção de pouco mais de 20.

Seu dedão direito folheia fêmeas: "tá de biquíni, eu já ignoro porque é várzea; tá maquiada, é certeza que é baranga; só tem foto do pescoço pra cima, é gorda". Eu vou ficando deprimida em ver meu amigo chamando amor de "cardápio de açougue".

Das duas que renderam uma noite de prazer, ele gostou "mais ou menos de uma", mas não o suficiente para um segundo encontro. Então, após a matemática, meu amigo terminou com o maravilhoso total de zero companhia para jantar no sábado. Por isso ele está aqui em casa comendo esfihas comigo. Me deprimindo e sorteando mais garotas.

Qual era o defeito dessa única que você "quase" curtiu? Ele não sabe responder. Alguns minutos de silêncio constrangedor e ele finaliza nossa noite com um parecer vago a respeito de tudo. "Nada disso tem a menor graça, vou sair dessa merda."

Ele vai embora e fico pensando se "merda" é o aplicativo ou o uso que se escolhe fazer dele. Se "sair dessa merda" significa abandonar o aplicativo ou abandonar o medo que ele tem de uma relação e voltar logo com essa ex que ele ama (e aceitar logo que toda mulher é chata).

Apesar de eu não cogitar hoje fazer parte do Tinder, preciso ser honesta e admitir que já estive, ao longo da vida, numa espécie de catálogo pro mundo. Esperando, algumas vezes numa festa ruim, outras na casa de amigos, conhecer um cara legal pra conversar ou dormir de conchinha. Mas nem por isso eu era uma vaca. Procurar alguém nunca fez de mim uma modelo sem cabeça numa vitrine.

Quis odiar o que o Tinder tinha feito com o meu amigo, mas terminei odiando o que o meu amigo estava fazendo com o Tinder.


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