Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Turismo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Invasão Barbara

Las Vegas é uma enganação que pode levar você à ruína

Ou só uma emoção barata para adicionar aos fogos do Réveillon, na cidade onde não se sabe se é dia ou noite

COLUNISTA DA FOLHA

Bem-vindo a Las Vegas! Tudo é grotesco, exagerado e barulhento e você está sendo enganado. Mas vai valer a pena. O que o casal na minha frente estava pensando quando resolveu trazer as crianças para passar o fim de ano nesse bacanal dos infernos?

A pergunta é inevitável, uma vez que a família que você acaba de cruzar no percurso do quarto até a porta do hotel destoa dos deformados fumantes compulsivos postados diante das máquinas caça-níqueis que lotam o lobby.

São centenas de zumbis alimentando de moedas engenhocas barulhentas. A caminhada até a rua, seja qual for o hotel que você tenha escolhido, é sempre demorada.

Sem contar que o destilado, para quem joga, jorra de graça, e o odor de nicotina já começou a invadir sua alma. Las Vegas é enganação. Mas não a do tipo que a molecada acha na Disney. Aqui a decepção pode ser o truque que leva à ruína ou só uma emoção barata para adicionar aos fogos de artifício do Réveillon.

Nunca se pode dizer ao certo se é dia ou noite em Las Vegas, cidade de pouco mais de 595 mil habitantes, que já chegou a consumir mais energia elétrica por mês do que a ilha de Manhattan com seu 1,6 milhão de pessoas.

De noite, ambientes externos são ultrailuminados, para dar impressão de verão interminável, e os internos são aquecidos por um dégradé "vanilla sky", especialmente nas áreas de compras. A luz nunca é alterada nos locais onde há mesas de jogo. Quem aposta não saberá dizer se são 10h ou 4h. Vai uma ficha aí?

Mas como não jogo e não tenho filhos, deixo Las Vegas me levar, Las Vegas leva eu. É para isso que viemos, não?

REI ARTHUR E A PIRÂMIDE

Las Vegas não enobrece o espírito, não lustra nem ilustra. Aposto minhas fichas em uma Disney de adultos, em que o dia começa depois do almoço e vai até o sol raiar, porque esse é o esquema que combina com Réveillon.

À meia-noite, você olha para baixo para ver os fogos de artifício. Lá da cobertura do Mandarin Oriental, 66º andar, em direção à avenida principal, de onde eles são lançados --a famosa Strip.

Sem essa de implicar com a Nova York inteirinha feita de gesso que mora ao lado do tosco castelo do rei Arthur que, por sua vez, reside sem nenhum pudor ao lado de uma pirâmide de Gizé gigantesca. A graça da Strip está aí.

Perda de tempo sacar da manga alguma citação de "Viagens pela Hiper-Realidade", de Umberto Eco, ou discutir o gosto infantilizado dos norte-americanos pela imitação, a tentativa desesperada deles em reproduzir o clima de uma ilha da Polinésia dentro de um shopping center.

Em vez de ridicularizar a torre Eiffel na frente do palácio dos imperadores romanos, sejamos realistas: pernoitar em Las Vegas é mais barato do que ficar em casa (leito por até US$ 90; R$ 198) e há diversão para tudo que é maluco.

Façamos um tour. Podemos começar com café da manhã no Hard Rock Café (eles servem, sabia não?). Depois das panquecas, damos uma espiada na memorabília: terninho do James Brown, microfone de ouro do Frank Sinatra e nanquins originais da animação "Yellow Submarine".

TIGRES ALBINOS

Em seguida, vamos ao museu/cemitério de letreiros de neon, passear de helicóptero pelo Grand Canyon ou, quem sabe, você prefira conhecer os tigres albinos no hotel Mirage? Ali há também um tanque de golfinhos respeitável e, se quiser, você pode nadar com eles. Se achar ridículo pagar cerca de US$ 400 (R$ 880) para entrar na água fria e sair cheirando a roupa de mergulho usada por 30 mil turistas antes de você, pode aproveitar o passeio para admirar o gigantesco aquário de água salgada no saguão do hotel. São 40 ou mais metros corridos de vidro atrás do balcão sem pagar nada para apreciar.

Nesta época do ano, na parte da tarde, a despeito do vento invernal (a temperatura não chega a castigar) você começa a perceber um bafo recorrente de álcool emanando dos transeuntes. E olha que as calçadas são espaçosas.

A gringolândia que festeje à vontade, porque nós temos trabalho a fazer. Brasileiro sofre de férias nos States, somos obrigados a aproveitar as ofertas e, em Vegas, as oportunidades abundam. Outlets e malls (tradução para o português: shopping center) são tão ou mais convidativos do que em Orlando.

Só lembre que você está no meio de um deserto e amplidão é o que não falta. Prepare-se para percorrer longas distâncias carregando suas compras.

Na verdade, é tudo tão desmesurado que chega a criar ilusões de ótica. Você pode estar na calçada do hotel Venetian e pensar: "Vou dar um pulinho ali no Bellagio, são só quatro hotéis de distância, 10 minutinhos". Não é bem assim. Cada hotel ocupa o espaço de uns dois ou três quarteirões. É sempre bom sair antes, por exemplo, para ver o espetáculo de hora em hora das águas dançantes da fonte do hotel Bellagio.

E o que fazer à noite? Como eu, você pode pertencer ao seleto clube que não vê graça no Cirque du Soleil. Mesmo assim, não deve perder o espetáculo mais concorrido da cidade, "Love", uma parceria entre Guy Laliberté, o criador do circo, e George Harrison (depois da morte dele, quem tocou o projeto foi o "quinto beatle", George Martin). Em cartaz há oito anos, está sempre esgotado. A emoção é garantida até para fãs dos Stones. Já o tal "Eau", um "cirque aquatique" em piscina com várias plataformas móveis, a mim comove tanto quanto o horário eleitoral.

DANÇA, UFC E STAND UP

Vegas abarca todos os melhores restaurantes dos EUA --ou uma versão magra de cada um. Da New York Deli ao Joe's Stone Crab, passando por Spago e Wolfgang Puck.

O que há de melhor no entretenimento também está presente, todos os hotéis (são cerca de 30 de grande porte) têm salas de espetáculo maravilhosas, com capacidade para mais de mil pessoas. Para uma estada de sete dias, é possível programar um show de stand up comedy, música, luta de UFC, tênis, dança ou coisa que o valha, de altíssima qualidade, para cada noite em que estiver na cidade.

Eu estive em 2012 e fui obrigada a escolher entre Nicki Minaj ou David Guetta na virada do dia 31. E ainda tive à disposição entradas para shows de Jerry Seinfeld, Maroon Five, The Killers, (eles são de Vegas) e "Monty Python and the Holy Grail". Comprando antecipadamente (ou seja, HOJE), você paga menos de US$ 100 (R$ 220) por pessoa. Britney Spears, Robin Thicke e Bruno Mars têm shows programados para este Réveillon.

Abominável ou fenomenal? Se você tiver estômago para essa maratona, acho que podemos deixar para conhecer os monastérios góticos de Riga no ano que vem.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página