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Hollywood ainda guarda vestígios de Chaplin

Turista passeia por bulevar que serviu de cenário para 1º longa de comédia e come em casas que o astro frequentava

Também é possível dormir em hotéis em que o humorista se hospedava e ir a jardins onde ele relaxava

KIRA COCHRANE DO "GUARDIAN"

Fico imaginando que tamanho teriam Los Angeles e Hollywood caso Chaplin nunca tivesse chegado.

Se o gerente de sua trupe de vaudeville (teatro de variedades popular entre o fim do século 19 e o início do século 20) não tivesse recebido um telegrama de um grupo de cineastas (com o nome do comediante grafado incorretamente) --"Tem um cara chamado Chaffin na sua companhia" --será que a cidade continuaria ainda hoje a ser uma aldeia sonolenta?

Na época, o futuro de Hollywood --uma área de apenas 500 moradores em 1900-- estava longe de garantido.

O clima e a luz eram igualmente favoráveis na Flórida e no Arizona, e, em Nova York, muitos estúdios prosperavam. Mas, com Chaplin, que se tornou o mais amado e o mais bem pago dos astros de cinema mundiais, o destino de Hollywood foi definido de maneira irreversível.

Isso faz com que o bairro de Los Angeles pareça romântico, o que está longe de ser a palavra ideal para a descrever a área hoje. A caminhada do estúdio de Chaplin até o Hollywood Boulevard é caracterizada por uma mistura de ateliês de tatuagem, carros em alta velocidade e apartamentos construídos às pressas para abrigar as multidões que chegavam à cidade com o sonho de interpretar ou dirigir, à sombra da placa de Hollywood.

Os turistas andam na calçada diante do Grauman's Chinese Theatre em busca das marcas deixadas pelas mãos de seus atores favoritos, enquanto não muito longe dali um imenso outdoor promove tours organizados pelo site de fofocas TMZ, mostrando as casas das celebridades. Há pessoas vestidas de Elmo e Batman, pedindo gorjetas para aparecer em fotos. Um solitário imitador de Chaplin gira sua bengala, e parece meio perdido.

Mas se você observar com atenção, encontrará traços da velha Hollywood, por exemplo, nas grandes mãos e nos pequenos pés impressos pelos astros do cinema mudo Douglas Fairbanks (1883-1939) e Mary Pickford (1892-1979) em 1927, no concreto da calçada diante do Grauman.

O Roosevelt Hotel, financiado pelo casal, foi inaugurado do outro lado da rua no mesmo ano. Chaplin, amigo dos Fairbanks, se tornou hóspede regular, e foi lá, em 1929, quando da primeira cerimônia do Oscar, que ele recebeu um prêmio pela "versatilidade e gênio na interpretação, roteiro, direção e produção", por "The Circus" (1928).

O Blossom Room, onde as primeiras estatuetas do Oscar foram entregues em uma cerimônia para 250 pessoas, agora é um espaço privado, mas no saguão do hotel fica o Library Bar, que pode ser visitado por todos.

É um santuário com paredes acolchoadas em couro e barmen que preparam coquetéis de acordo com o gosto do freguês. A sensação é a de que você está a quilômetros do burburinho turístico.

Depois de nossos drinques, meu parceiro Alex e eu fomos ao Musso and Frank Grill (mussoandfrank.com), restaurante inaugurado em 1919 no qual Chaplin jantava com tanta frequência que ele tinha um espaço particular. Com os garçons elegantemente vestidos e as cadeiras de couro vermelho, o salão não parece ter mudado muito. O garçom nos contou que o bartender trabalha na casa desde 1969.

Foi logo adiante no Hollywood Boulevard que Chaplin filmou a primeira comédia de longa-metragem realizada nos Estados Unidos, "Tillie's Punctured Romance" (1914). "Silent Traces", livro de John Bengston, mostra cenas do filme, no qual Chaplin atua com Marie Dressler (1868-1934) e Mabel Normand (1892-1930), na época em que bondes ainda percorriam a via.

CACHORROS E ATORES

Bem perto do Hollywood Boulevard fica o galpão alugado por Cecil B. DeMille e Jesse Lasky em 1913, para uso como estúdio na produção de "The Squaw Man" (1914), o primeiro drama em longa-metragem de Hollywood. O galpão hoje é sede do Hollywood Heritage Museum e abriga uma réplica do escritório de DeMille.

O guia nos contou sobre a época em que as casas para alugar exibiam placas como "cachorros e atores proibidos" e nos levou ao Egyptian Theatre, que serviu de cenário à primeira estreia realizada em Hollywood, "Robin Hood", uma aventura estrelada por Fairbanks em 1922; ele também nos mostrou o restaurante Pig'n'Whistle, ao lado, contando que Chaplin costumava entrar lá, pular o balcão e fazer seus sundaes.

É difícil imaginar os velhos astros de Hollywood circulando por um lugar tacanho como esse, hoje. Pickford talvez tenha enfeitado os bares da região um dia, mas, agora, imagino, ficaria mais à vontade em sua casa em Beverly Hills, para onde ela e outros astros foram atraídos pelo Beverly Hills Hotel, de 1912.

O hotel, um edifício cor de rosa, tem quartos com camas de dossel e banheiros de mármore negro e rosa. O terreno do hotel abriga 23 bangalôs. Marilyn Monroe se hospedava em um deles.

Os hóspedes mais convencionais tendiam, então e agora, a comer nos restaurantes do hotel, entre os quais o Polo Lounge, onde Chaplin manteve por décadas uma reserva permanente. Se ele não aparecesse, a mesa ficava vazia. Hoje, qualquer um pode fazer reservas e, embora o cardápio ofereça caviar siberiano por US$ 180 (R$ 425), o hambúrguer da casa, por US$ 28 (R$ 65), é mais acessível.

Do Beverly Hills Hotel, Chaplin teria caminhado até a propriedade de Virginia Robinson, onde relaxava no jardim. Duas das voluntárias que ajudam a preservar o imóvel --Jeanne Anderson e Marcella Ruble-- nos mostraram os jardins, a horta e o pomar.

"Experimente sentar em uma delas", disse Anderson. Tentei. Hoje, é possível reservar visitas, ver as flores que se estendem sobre as quadras de tênis e caminhar, uma vez mais, no rastro de Chaplin.


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