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Marco Brotto, 43, comerciante
À caça das luzes
Pela aurora boreal, fenômeno que presenciou mais de 50 vezes em 9 expedições, curitibano atolou o carro na Islândia e dirigiu com a janela aberta no Alasca
A primeira vez que tentei ver a aurora boreal, no Alasca, foi frustrante: fui parar no lugar errado e não vi nada.
O insight para ver o fenômeno aconteceu quando estava com quatro amigos no Death Valley [depressão no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos]. Um deles, admirado com aquele céu lindo, disse: "Imagina ver a aurora boreal?". E eu pensei: por que não?
Voltei ao Brasil e fui pesquisar. Li que do Alasca dava para ver o fenômeno e fechei um cruzeiro pelas geleiras para o começo de setembro, mas o lugar estava errado --tinha que ser mais ao norte. Isso foi em 2008, uma decepção só.
Quando voltei de lá, decidi que estudaria o fenômeno. Desde então, vi mais de 50 auroras boreais nas nove expedições que fiz até hoje.
Não dá para descrever o que foi presenciar o fenômeno pela primeira vez --ainda que me emocione a cada dança das luzes.
A PRIMEIRA (E AS OUTRAS)
Minha primeira jornada de sucesso foi na Noruega, em abril de 2011. Mas não foi fácil. No dia em que cheguei a Tromso, cidade no Círculo Polar Ártico, começou a nevasca. E foram quatro dias de neve. O guia que havia contratado pela internet até se cansou --e cancelou as viagens programadas.
Sozinho, peguei um ônibus, fui 400 km ao norte, voltei de barco e nada. No último dia, peguei outro ônibus. Na ida, escuridão. Na volta, deu para ver um pouquinho da aurora. Mas não estava satisfeito. Voltei ao hotel e peguei o carro que tinha alugado para voltar ao ponto em que tinha visto as luzes do ônibus.
E de lá eu vi. A aurora superlinda, enorme. Tive vontade de rir, de chorar.
Daí passei a ter certeza de que era quase um dever compartilhar aquela coisa maravilhosa com as pessoas, ajudar mais gente a presenciar o fenômeno, que muitos nem sabem que existe.
Comecei a juntar amigos e organizar expedições. A que eu fiz em fevereiro deste ano para Noruega, incluindo Svalbard [território permanentemente habitado mais próximo do Polo Norte] e Finlândia, tinha 15 brasileiros.
Muita gente me procura, via Facebook, pedindo ajuda para caçar as auroras. Vou com um outro grupo, de 40 pessoas, para a Noruega de novo entre setembro e outubro, como "coach". Eles pagam a minha viagem, e eu acho a aurora para eles.
A minha próxima expedição solo vai ser para o Canadá, em novembro. Groenlândia e Rússia também estão na minha lista.
Apesar de gostar do frio e da paisagem que ele proporciona (um céu incrível, montanhas cobertas de neve), quando for à Rússia quero descer do avião, ver a aurora e partir. Não tenho estrutura para aguentar um frio de -40°C por muitos dias a fio.
NEM TUDO SÃO LUZES
O frio não é o único obstáculo das caçadas... Às vezes, as coisas dão errado mesmo, passo perrengues. Na Islândia, em 2012, dormi duas noites dentro do carro esperando o fenômeno. Foi lá que atolei o carro e tive que esperar o resgate chegar no meio de uma estrada onde não passava quase ninguém.
No Alasca, perdi a chave do carro. Ela caiu na neve fofa, afundou e desapareceu. Tirei a luva, pedi ajuda para o meu anjo da guarda e botei a mão no meio do gelo. Acabei achando a chave. Também lá, o motor do vidro elétrico congelou e eu tive de dirigir 30 km com a janela aberta, com -28°C do lado de fora.
Por isso, sempre vou preparado para qualquer imprevisto, principalmente se viajo sozinho. A minha mochila de primeiros-socorros tem 20 kg.
Não existe uma fórmula exata para ver a aurora. Se o tempo estiver fechado, com muitas nuvens, não dá para ver mesmo. É melhor caçar um pedaço de céu aberto.
Um dia eu estava num chalé na Lapônia e um amigo, ansioso, não parava de falar: "Vamos ver a aurora hoje? Vamos?". Eu só dizia para ele: "Calma, ela está aqui em cima, mas ainda está apagada. Daqui a pouco ela acende".
Recebi uma mensagem de um aplicativo que ajuda a monitorar o céu no celular avisando que a atividade tinha começado a aumentar.
"A aurora vai aparecer em cinco minutos", disse ao meu amigo. E apareceu mesmo.
Em 2012, levei minha namorada Laurize à Noruega. Ela viu a aurora pela primeira vez lá. Mais tarde naquele dia, 12 de dezembro de 2012--12/12/12, até mandei gravar na aliança--, a pedi em casamento.